* Artigo em coautoria com:
Vanessa Augusta Ferreira, ESAMC, vanaferreira28@gmail.com;Vitor Petrucci Santos, Universidade Federal de Uberlândia, vitor_petrucci06@hotmail.com;Álisson Rocha Machado, PUC-PR e Universidade Federal de Uberlândia-UFU, alissonm@mecanica.ufu.br
As empresas brasileiras vêm buscando por certificações, já que o mercado está mais competitivo, e só assim elas terão vantagens no mercado brasileiro, e também poderão ocupar uma fatia do mercado internacional. Para uma organização obter uma certificação, o comprometimento do time é crucial, logo todos colaboradores devem trabalhar em conjunto, a fim de alcançar o mesmo objetivo, a partir de firme condução da liderança na pirâmide de gestão da qualidade (Alves &Barreto, 2010).
Heméritas (1998) afirma que, em dezembro de 1994 já havia 460 empresas brasileiras com a certificação de qualidade. De acordo com a ISO (Internacional Organization for Standardization – Organização Internacional de Normalização), no ano de 2011 o Brasil era o país com o maior número de certificação em toda a América com 28.325 certificados, seguido doas Estados Unidos com 25.811 certificados.
Um produto de qualidade é aquele que atende perfeitamente, de forma confiável, acessível, segura e no tempo certo, as necessidades do cliente (Campos, 2014).
O Laboratório de Ensino e Pesquisa em Usinagem - LEPU/UFU Uberlândia, busca por sua certificação, já que o mesmo se preocupa em transmitir a seus alunos e toda a comunidade, a importância da pesquisa de usinagem para o mercado e a indústria. A marcha para processo de certificação já esta ocorrendo, a partir da utilização das ferramentas da qualidade tais como POPs (Procedimentos Operacionais Padrão), Follow-up com inovação em conjunto com o modelo Kanban, melhoria contínua PDCA, conceitos e fundamentos da ISO9001:2008, ISO14001:2004 e OHSAS18001:2007, e principalmente o programa 5S.
O objetivo deste artigo é mostrar o aperfeiçoamento do trabalho realizado no local, ao focar o conjunto que se inicia na qualidade do produto (usinagem), respeito ao meio ambiente e à saúde e segurança da comunidade, haja vista alguns laboratórios universitários terem se transformado em verdadeiros laboratórios industriais. Retrata principalmente, parte da experiência em relação à implantação e execução da metodologia do Programa 5S, visando futura Autodeclaração de conformidade, frente ao SIG com as normas ISO9001:2008; ISO14001:2004; e ISO18001:2007, no Laboratório de Ensino e Pesquisa em Usinagem – LEPU/UFU Uberlândia.
2. METODOLOGIA
Esse artigo restringiu-se a explorar apenas a metodologia do Programa 5S. O Programa 5S é considerado a base para futura Autodeclaração do LEPU com os processos conforme as normas ISO9001:2008, ISO14001:2004 e OHSAS18001:2007.
2.1. PROGRAMA 5S
O programa 5s se originou no Japão, com o princípio de gerenciamento de espaço de trabalho mantendo-o ordenado, limpo, saudável e de qualidade em uma organização (Khamis et al. 2009; Heméritas, 1998). A expressão 5S representa cinco palavras japonesas, as quais indicam cinco diferentes etapas que a metodologia aplica, sendo elas: Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu e Shitsuke (Osada, 1989; Kobayashi, 2005).
A tradução para o português, inicia-se com a palavra senso para manter o nome original do programa 5S, e também pelo fato da palavra expressar entendimento, capacidade de apreciar e de julgar. Assim, (Heméritas, 1998)
1- Seiri – Senso de Utilização: representa analisar e classificar todos os itens e retirar do local todos os itens que não necessitem estar naquele local, ou seja, tenha o necessário na medida certa;
2- Seiton – Senso de Ordenação: representa arrumar todos os itens de maneira organizada, propiciando acessibilidade e agilidade, ou seja, cada item deve ter o seu devido lugar;
3- Seiso – Senso de Limpeza: representa realizar a limpeza, cada colaborador deve ter consciência que o seu local de trabalho dever permanecer limpo antes, durante e depois do trabalho;
4- Seiketsu – Senso de Saúde: representar preocupar-se com a saúde física, mental e emocional do colaborador, ou seja, é a preocupação da qualidade de vida no trabalho;
5- Shitsuke – Senso de Autodisciplina: representar assegurar a adesão pela disciplina para as regras e procedimentos pré-estabelecidos. (Heméritas, 1998)
Antes de iniciar o projeto, foi exposto para toda comunidade e abordada à importância e os pontos positivos que o mesmo iria trazer ao ambiente. Explicou-se também sobre as metodologias a serem aplicadas, e sobre a necessidade de participação e colaboração. Mas, como toda mudança gera desconforto, esse é um dos obstáculos que foi, e continua sendo enfrentado.
Para obter o resultado esperado, é necessário trabalhar com as cinco etapas separadamente e em ordem, pois pode interferir significativamente no resultado final. As três primeiras etapas, das cinco, são operacionais, a quarta mantém o nível alcançado durante a implementação, e a quinta etapa, auxilia na melhoria contínua do processo.
No intuito de manter a melhoria contínua durante todas as cinco etapas, foi proposto a criação de vários POPs, através dos quais, os operadores seriam treinados, e na dúvida do que fazer, em determinados assuntos e tarefas, obteriam o suporte para executar a tarefa corretamente.
Dentre as cinco etapas do programa 5S, iniciou-se a implantação da metodologia pelo Senso de Utilização, no qual a comunidade é indagada sobre a falta de utilização de vários itens presentes no laboratório. A sala dos alunos de IC – Iniciação Científica foi o segundo local onde se iniciou a aplicação do Senso de Utilização. Neste ambiente, havia vários itens desorganizados, de fácil acesso os quais não eram utilizados, há um grande período de tempo.
A partir desta etapa, foi criada a mesa de descarte, que tem com função principal receber todo e qualquer item inutilizável, mas que pode ser de grande valia para algum outro membro da comunidade como artigos, revistas (caso os dois itens já se encontrarem digitalizado), caixas, CDs, entre outros. Os itens inutilizáveis ficaram dispostos na mesa durante um mês, caso eles não fossem reutilizados nesse período de tempo, os mesmos seriam encaminhados ao LRQ - Laboratório de Resíduos Químicos da própria Universidade, localizado no bloco 5J, o que de fato ocorreu com centenas desses itens.
A principal preocupação com essa sala, se deve ao fato de na época existirem resíduos de classe I armazenados em recipientes e local totalmente inadequados. De acordo com a NBR 10004:2004, os resíduos de classe I são considerados perigosos (BARRETO, 2000). Com a existência desse resíduo na sala, foi lavrada a não conformidade e realizada a retirada imediata dos mesmos para armazenamento correto e futuro descarte.
Na sala do coordenador do LEPU foi o primeiro local a ser aplicado o Senso de Utilização. Nesse ambiente havia vários artigos, livros, entre outros documentos, nos quais acumulava poeira e fungos, e sua utilização quase não acontecia. Esses materiais não poderiam ser descartados, pois têm grande importância no mundo acadêmico. Para não se desfazer dos referidos documentos, está ocorrendo à catalogação de todos os materiais encontrados, e em seguida, esta sendo realizada pesquisa se os mesmos estão disponíveis ou não na internet. Os que não estão disponíveis são escaneados, e assim estamos transformando os documentos físicos em digitais.
Pensando em disponibilizar os documentos digitais para toda comunidade, criou-se o blog do LEPU, acessível no endereço eletrônico www.lepuufu.blogspot.com.br, para facilitar a acessibilidade a todos. À medida que os documentos físicos vão sendo digitalizados, ou encontrados disponíveis na internet, os mesmos vão sendo dispostos na mesa de descarte.
O Senso de Ordenação foi, e ainda esta sendo trabalhado com a intenção de organizar os materiais, ferramentas, máquinas, fluídos de cortes, entre outros, em lugares específicos, a fim de facilitar a locomoção, acessibilidade e agilidade dentro do laboratório.
Para se obter uma maior ordenação dentro do laboratório, elaborou-se uma etiqueta de identificação, que é disponibilizada a todos da comunidade, objetivando que possam guardar materiais, experimentos e pertences que ficam no laboratório, em um local específico e devidamente identificado com a etiqueta.
Para a sala dos alunos de ICs, foi feito um projeto que contempla a reorganização da sala, deixando-a com maior espaço de locomoção nos corredores e de maneira que possa comportar maior quantidade de alunos.
Para ocorrer a retirada dos resíduos classe 1, os mesmos devem estar em recipientes devidamente identificados, informando a classe do resíduos e sua qualificação de acordo com o Diagrama de Hommel, isso é feito através de etiquetas. Foi elaborado, um modelo de etiqueta padrão, assim todos os recipientes com resíduos terão a mesma identificação.
Em seguida, foi realizado o Senso de Limpeza, decorrente da conscientização de limpeza não estar adequadamente internalizado no cotidiano da comunidade. Busca-se aprimorar esse senso, no dia a dia do LEPU, pois a limpeza deve estar presente antes, durante e depois da utilização do laboratório.
Os professores são considerados um dos principais meios de levar essa conscientização aos alunos, e aos outros membros da comunidade, pois são vistos como mentores, pessoas respeitadas por todos, para trabalhar na conscientização da comunidade, o que torna a tarefa menos árdua.
Para essa etapa criou-se um POP, que auxilia as pessoas sobre quais tarefas devem ser realizadas antes, durante e depois de utilizar a máquina de usinagem. E também, descreve como deve ser realizada a limpeza, retirada de fluidos e resíduos classe 1, a fim de manter a conservação do equipamento.
Já a quarta etapa, o Senso de Saúde, sempre é explicado e transmitido aos colaboradores nas reuniões que acontecem toda última sexta de cada mês para a comunidade. Nela é discriminada a importância da saúde física, mental e emocional dos usuários durante o trabalho desenvolvido no Laboratório, onde se preza pelo zero acidente e zero lesão.
Nessa etapa, criou-se também um POP, no qual fica claro ao operador da máquina, quais são os EPIs – Equipamento de Proteção Individual, que o mesmo deve usar quando utilizar a máquina. Em uma das reuniões que ocorreram, explicou-se aos membros, a importância e a gravidade dos acidentes que poderiam ocorrer, caso os EPIs não fossem utilizados corretamente.
Em relação aos EPCs – Equipamentos de Proteção Coletiva foram analisados e propostos projetos para as melhorias da segurança e qualidade de vida da comunidade, como por exemplo, a exaustão de gases e a sinalização de faixas de segurança conforme as NRs 5 e 12.
Um dos principais problemas encontrados e que ainda persiste, é com relação ao armazenamento incorreto dos fluídos com resíduos classe 1. No intuito de sanar esse problema, criou-se um POP próprio para a segregação e descarte desse resíduo, desta forma toda a comunidade possui agora, uma ferramenta adequada às necessidades do LEPU. Nesse mesmo POP, estabeleceu-se uma logística até o local onde o resíduo será devidamente disposto , indicado pela circular MI-CIRCULAR/016/2016/DIRSU/PREFE de 24 de março de 2016, na qual trata que todo gerador de resíduos deverá embutir nos seus custos o transporte e o condicionamento dos mesmos.
Na última etapa, o Senso de Autodisciplina visa tornar a nova cultura, em um modo de vida da comunidade, fazendo-a aceitar e respeitar as regras e procedimentos existentes e implantados no LEPU. No intuito de fazer com que todos na comunidade, respeitem as regras e procedimentos citados anteriormente (POPs), criou-se um Relatório de não conformidade e ação corretiva/preventiva, o qual é preenchido quando o usuário desrespeita alguma norma ou regra.
3. CONCLUSÃO
Com a aplicação da metodologia o Programa 5S foi possível perceber clara melhoria ocorrida no ambiente de trabalho do LEPU. Como a futura Autodeclaração aborda a adesão as normas de Qualidade (ISO9001:2008), Meio Ambiente (ISO14001:2004) e Gestão da Saúde e Segurança Ocupacional (OHSAS18001:2007), a implantação do 5S é o arcabouço para o Sistema de Gestão Integrada da Qualidade, é a base para este trabalho.
Como resultado já alcançado, estabeleceu-se na comunidade, uma comunicação tácita de todos os sensos do programa 5S, e foi possível resolver o grave problema de passivo ambiental acumulado anos a fio, de resíduos perigosos oriundos das operações das máquinas do laboratório.
A partir dessas melhorias pode-se afirmar que o LEPU se tornou um lugar mais saudável e seguro para trabalhar, visando às metas de zero acidente e zero lesão, apesar das não conformidades ainda encontradas, e devidamente registradas.
4. REFERÊNCIAS
ABNT - NBR ISO 9001:2008. Sistemas de gestão da qualidade: requisitos.
ABNT - NBR ISO 14001:2004. Sistemas de gestão ambiental: requisitos com orientações para uso.
ABNT - NBR 10004:2004. Resíduos sólidos – Classificação.
ALVES, P. H. L; BARRETO, J. C. N. A implantação do Sistema de Gestão Integrada (SIG) em laboratórios de análises clínicas e biomédicas. Sinergia. São Paulo, v. 11, n. 2, p. 218-230, jul./dez. 2010.
BARRETO, J. C. N. As ferramentas da qualidade e seu uso no gerenciamento da indústria no polo sídero-petroquímico de Cubatão. Tese (Doutorado) em Saúde Pública. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2000. 17 Julho. 2016, <http://www.usp.br/teses/.>
CAMPOS, Vicente Falconi. TQC - Controle da Qualidade Total, no estilo japonês. 9. ed. Nova Lima: Falconi, 2014.
JIMÉNEZ, M., ROMERO, L., DOMÍNGUEZ, M., ESPINOSA, M., 2015. 5S Methodology implementation in the laboratories of an industrial engineering university school. In: Science Direct, Safety Science 78 (2015) 163–172. Khamis, N., Abrahman, M.N., Jamaludin, K.R., Ismail, A.R., Ghani, J.A., Zulkifli, R., 2009. Development of 5S practice checklist for manufacturing industry. In: Proceedings of the World Congress on Engineering, vol. 1, pp. 978– 988.
HEMÉRITAS, Ademar Batista. Organização e normas. – 7. Ed. – São Paulo: Atlas, 1998.
OHSAS 18001:2007. Sistema de gerenciamento de segurança e saúde ocupacional: especificação. ISO, 2016. “Internacional Organization for Standardization”. 1 Ago. 2016,
ISO, 2016. “Internacional Organization for Standardization”. 1 Ago. 2016, <http://www.iso.org/iso/page_not_found?pathinfo=http://www.iso.org/iso/database_iso_9001_iso_survey_2011.xls
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