quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Stress e a qualidade de vida no trabalho


          Seria o stress no trabalho uma epidemia global? Para responder a esta e outras questões sobre qualidade de vida no ambiente laboral, os professores Ana Maria Rossi, James Campbell Quick  e Pamela L. Perrewé escreveram em conjunto com vários colaboradores, todos, como eles, doutores - o livro “Stress e Qualidade de Vida no Trabalho,” publicado pela Ed. Atlas em 2008. Os autores narram a vivência do stress relacionado ao trabalho em diferentes ocupações. Utilizam para isso, uma ferramenta de breve avaliação do stress, que segundo descrições mede uma série de estressores relacionados ao trabalho, além de aferir também as conseqüências do stress, que são a falta de bem estar psicológico, a perda da saúde física e a insatisfação no emprego.   

          O motivo para o meu interesse e de outros pesquisadores por este tema, se dá em virtude dos indícios de aumento de ocorrências do stress prolongado ou intenso no local de trabalho no Brasil, e via de conseqüência, de seus impactos negativos sobre a saúde mental e física dos indivíduos, principalmente como narrado pelo HEALTH AND SAFETY EXECUTIVE do Reino Unido, em que os resultados apontam para um nível de stress tal, que meio milhão de ingleses estarão completamente doentes  em virtude disso.Alertam também para o fato de que  cerca de cinco milhões de pessoas disseram na pesquisa, sentir-se muito ou extremamente estressadas com seu trabalho,e conforme  resultados publicados anteriormente no “Journal of Managerial Psychology” número 20 de 2005, o  stress relacionado ao trabalho custa àquela sociedade cerca de 3,7 bilhões  de libras esterlinas todos os anos.Quanto estaríamos gastando por aqui?   

          Uma sociedade avançada se preocupa em como reduzir o stress negativo do trabalho(sim, porque há o stress positivo,do qual não devemos abrir mão), enquanto nós ainda contamos nossos mortos aos milhares, em acidentes de trabalho - foram segundo o IBGE, 2950 em 2009 - enquanto no cenário mundial este número chega a dois milhões de mortes por doenças ocupacionais e/ou acidentes, com um custo associado estimado em 1,5 trilhão de dólares /ano. 

          Sensibilizado pela questão, trato do assunto em minhas aulas de “ Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho” que ministro em vários cursos de Pós graduação, e tenho com isso conseguido alguns discípulos seguidores, que realizarão no futuro muito mais do que tenho feito, ao unir este tema, ao da qualidade dos processos e à qualidade ambiental.Jean Tófoles Martins Bernardes é um deles e seu brilhante artigo  “ A Incidência de Stress em Executivos de um Grupo Empresarial e suas particularidades”- disponível em WWW.SCIENCOMM.COM.BR -, me honra como seu orientador.Ele mostra em sua pesquisa que o andar de cima está doente com o stress (alguns já morreram), e as mulheres são as que mais sofrem principalmente com os sintomas psicológicos.  

          Os dados mostrados em seu trabalho corroboram com as pesquisas científicas do grupo acima citado, que destaca a vulnerabilidade de trabalhadores que exercem função de liderança, quanto à convivência com o stress organizacional. Propõe programas voltados para saúde mental nas organizações, voltados principalmente para essas lideranças, essenciais - segundo suas palavras - para suas empresas atingirem metas financeiras e corporativas. Parabéns Jean!  

* Professor Doutor 
debatef@debatef.com.br  
Gazeta do Triângulo

Tempo X Humanização


Gostaria de compartilhar com vocês um dos e-mails de ex-alunos-desses que se tornam amigos para o resto da vida -sobre Qualidade de vida:

“ Há um grande movimento na Europa hoje, chamado Slow Food. A Slow Food International Association - cujo símbolo é um caracol, tem sua base na Itália (o site, é muito interessante. Veja-o). O que o movimento Slow.

Food prega é que as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos, "curtindo" seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem pressa e com qualidade. A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida. A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientou a revista Business Week em sua última edição européia.

A base de tudo está no questionamento da "pressa" e da "loucura" gerada pela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraposição à qualidade de vida ou à "qualidade do ser". Segundo a Business Week os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos horas, (35 horas por semana) são mais produtivos que seus colegas americanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituíram uma semana de 28,8 horas de trabalho, viram sua produtividade crescer nada menos que 20%. Essa chamada "slow attitude" está chamando a atenção até dos americanos, apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it Now" (faça já).

Portanto, essa "atitude sem-pressa" não significa fazer menos, nem menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e "produtividade" com  maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos "stress". Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer, das pequenas comunidades, do  "local", presente e concreto em contraposição ao  "global"  - indefinido e anônimo. Significa a retomada dos valores essenciais do ser  humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé.

Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais "leve" e, portanto, mais produtivo onde seres humanos, felizes, fazem com prazer, o que sabem fazer de melhor.

Nesta semana, gostaria que você pensasse um pouco sobre isso. Será que os velhos ditados "Devagar se vai ao longe" ou ainda "A pressa é inimiga da perfeição" não merecem novamente nossa atenção nestes tempos de desenfreada loucura? Será que nossas empresas não deveriam também pensar em programas sérios de "qualidade sem-pressa" até para aumentar a produtividade e qualidade de nossos produtos e serviços sem a necessária perda da "qualidade do ser"?

No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível, em que um personagem cego, vivido por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela responde: "Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos...". "Mas em um momento se vive uma vida" - responde ele, conduzindo-a num passo de tango. E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme. Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só alcançam quando morrem enfartados, ou algo assim. Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com o futuro e se esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe. Tempo todo mundo tem, por igual.
Ninguém tem mais nem menos que 24 horas por dia. A diferença é o que.

Cada um faz do seu tempo. Precisamos saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon... "A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos Planos para o futuro".

Assino em baixo.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br


Somos os 99%?

Ainda vai levar um tempo/ Pra fechar/ O que feriu por dentro/.../Assim caminha a humanidade” cancioneiro popular

Chamou a atenção novamente na mídia, semana passada, o movimento “ocupe wall Street” feito por bem nascidos jovens americanos em Nova York. Eles querem dizer ao mundo que são pobres e que não estão entre os 1% das pessoas da terra possuidoras da maioria das riquezas do planeta. Todavia um estudo do cientista BranKo Milanovic, pelo Banco Mundial desmitificou o assunto, e mostrou que grande parte deles está entre a minoria “odiada”. Os números de Milanovic são taxativos: 60 milhões de pessoas compõe o universo dos 1% mais ricos do planeta, dos quais 29 milhões vivem nos EUA-muitos deles pais, irmãos e primos dos revoltosos. O estudo considerou rica uma pessoa com renda anual maior ou igual a U$34mil dólares (já descontados os impostos), ou pouco mais de 5mil reais por mês, segundo dados de 2005. Quem não conhece pessoas que ganham por mês aqui no Brasil estes valores? Pois estão entre os 1% - e muitos ainda ocupando as praças da vida para se dizerem injustiçados e pobres. Aqui , segundo o estudo, são 2 milhões de pessoas, já que chegamos a sexta posição em PIB no mundo. E na minha opinião, temos é de parar de reclamar, gastar menos e economizar mais. Algumas carreiras de estado começam com salários bem superiores a isso, e perderam a noção do que ganham, e das referências com o País e o resto do mundo. Os dados do economista excluem Índia e China para não rebaixar muito as bases de cálculo, mas deixa claro que uma classe média global incluindo estes países, vive em média com apenas U$1225 por ano (cerca de 2500 reais). E isso significa que os 5% mais pobres dos Estados Unidos ainda tem uma vida financeira melhor que dois terços do planeta. Esses guris são os 5% mais pobres de lá? claro que não!

Depois dos EUA o país com maior número de ricos é a Alemanha com 4 milhões de pessoas, seguido do Reino Unido, França e Itália-todos com 3 milhões de pessoas “bem de vida”. Canadá, Coréia do sul e Japão, como o Brasil, tem 2 milhões. O autor, segundo matéria publicada no site CNNMoney, mostra dados divulgados em seu livro ”The have  and  the have-not”(“os que tem e os que não tem”- em tradução livre), e afirma que existe uma classe média global em plena expansão, deixou de fora muitos dos “ocupantes” por receberem ajuda do governo americano, em muito superior ao que se observa no mundo.

 Voltando nossos olhos para o Brasil percebemos situações parecidas: ajuda governamental, bem vinda colocou “ex-miseráveis” no mapa da “classe média global” o que dá ao mercado interno brasileiro um valor enorme para empresas transnacionais players usarem e literalmente abusarem (vide TIM, Oi e assemelhados) além de servir como colchão de amortecimento para crises externas e barbeiragens de economistas do governo de plantão.

Não estou pregando que estamos ganhando bem demais e por isso não devemos buscar melhorias salariais- estou afirmando que algumas categorias, notadamente as federais, perderam as referencias e peço vênia para dizer neste arrazoado quais são elas, para uso da Nação, e dos contribuintes que pagam a conta da insensatez, por não poderem, em função da sangria dos cofres públicos, exigir do Estado fazer seu papel primordial, que é cuidar das Infraestruturas, Segurança, Saúde e Educação.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com

Bancos x Revoluções


“Dinheiro na mão é vendaval”- cancioneiro popular

Sempre fiquei perplexo com a rubrica presente no balanço dos bancos intitulada “provisão para devedores duvidosos”, que aparece e desaparece a mercê da canetada do gestor, e por isso um prejuízo certo pode se tornar um lucro contábil e, vice versa, dependendo da situação e da necessidade do banco -de tal forma que um amigo, que trabalha como diretor financeiro nesta área me informou com a maior desfaçatez: quem faz o lucro ou prejuízo da instituição sou eu, trabalhando isso aí. Como assim cara pálida? E ele desconversou, pois o momento não permitia maiores detalhamentos. É... esta artimanha ,pouco clara, foi usada segundo publicações especializadas, na falência fraudulenta do Banco Santos , está presente na compra pelo ITAÚ ,do BMG - o rei dos créditos consignados, e está no DNA da crise bancária americana de 2008, e na atual crise econômico –financeira da Eurozona. Uma organização assim, faz muitas vítimas - os fundos garantidores, os correntistas, o tesouro nacional- todos perdem, menos os banqueiros. Foi assim também com o banco Pan Americano do Sílvio Santos, às vésperas da eleição de Dilma Roussef, e que foi abafado pelo governo Lula, até que se abrissem as urnas. E porque? Claro que por causa da diferença gritante entre o montante devido a bolsa família, e aquele dispendido para Bolsa _Banqueiros, que poderia sobressair e ficar claro naquele momento para a sociedade, por conseguinte milhões de votos iriam pelo ralo. Todavia onde estava a oposição? ela não teve intelligentsia trabalhando a seu favor, e se deixou tripudiar pelo Napoleão de São Bernardo e mestre do mensalão ,que deu migalhas aos pobres, e banquetes com caviar e vinhos caros aos banqueiros e empreiteiros corruptores.

Aprendi que valor é igual a Função dividida pelo Custo ao executá-la. Logo, para que se tenha valor, há que se executar algo a um preço adequado. Quando se faz as coisas a qualquer preço, o valor diminui drasticamente e se torna tão ínfimo que o custo nesta operação se mostra iníquo-saltando a vista do povo, e a partir daí ninguém segura revoluções -as primaveras árabes da vida.

O Dinheiro das nações tem sido gasto para salvar o sistema bancário mundial-dezenas de trilhões de dólares tem saído dos tesouros nacionais, e a conta amarga tem sido paga pelos orçamentos destes países. Este paradigma, no Brasil, é responsável pela desigualdade social extrema e pela cruel exclusão social. O BNDES perde dezenas de bilhões de dólares ao investir e perder a aposta em grandes conglomerados econômicos, e é incapaz de ajudar da mesma forma, milhões de pequenas e médias empresas nacionais, que representam mais de 80% dos empregos nacionais. Dá pra se calar diante de tanta iniquidade? Os espanhóis foram para a rua, os gregos também, os argentinos bateram panelas, os americanos ocuparam Wall Street. E nós?

Temos sido enganados por políticos que se locupletam com “operações uruguais”, mensalões, escândalos econômicos do clã Sarney, milhões de reais de aloprados do PT, e desvios do tesouro para as Deltas e seus Cachoeiras. É muito pouco falar “acorda Brasil”. Temos de gritar e ir para as ruas antes que seja tarde demais. É mandatário construirmos esse legado de liberdade, tão caro a nós e às futuras gerações.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com



O capital


As pessoas costumam afirmar que os economistas são arrogantes. Falam uma língua diferente, o economês, e tem linhas de pensamento conflitantes, que quando contrariadas pelos fatos, não são revistas pelos autores e seguidores. O tema de nossa reflexão hoje, é baseado em uma leitura que fiz nas férias, e que julgo indispensável neste começo de século: “O Capital no século XXI” de Tomas Piketty - que não é arrogante, nem tem um discurso de economês, pelo contrário, é elegante, possui um suave trato com as palavras, e apresenta competentes pesquisas sobre desigualdade de riqueza e renda, que inovam e impactarão o cenário da economia politica, no século XXI, tanto quanto Marx no século XX, daí o sucesso editorial jamais visto em um livro de economia.

A principal força desestabilizadora da distribuição de renda, é o fato da taxa de rendimento do capital privado ser muito mais elevada que o crescimento dos salários e da produção, e se nada for feito, algo acontecerá de muito grave e revolucionário, envolvendo o despertar das massas prejudicadas. O trabalho é conclusivo, ao comparar as desigualdades de renda e capital, no tempo e no espaço, ao redor do mundo, utilizando o coeficiente de Gini (indicador sintético de desigualdade que varia de 0 a 1–quanto mais próximo de 1 pior). Em 2010 este índice era 0,36 na Europa, 0,49 nos Estados Unidos, e 0,19 nos países escandinavos – O PNUD órgão da ONU avaliou o Brasil em 0,56- o 3º mais desigual. E o que mais me impressionou nas pesquisas de Piketty, é que pouca coisa mudou desde a belle époque- as pequenas mudanças que ocorreram foram exógenas (com ação de fora das sociedades estudadas –como por exemplo guerras) –via de consequência, a desigualdade  não mudou por ações de governantes, nem em países democráticos como Inglaterra e EUA. Como seria diferente por aqui?

Aprecio tabelas e gráficos com análise quantitativas e qualitativas para expressar resultados, o que o livro apresenta fartamente. No capítulo sete, por exemplo, em três tabelas, o autor mostra qualitativamente que em 2010, em termos de propriedade do capital, em todos países o índice médio de Gini foi 0,70, enquanto que para renda do trabalho foi  0,30 (menos da metade). Percebam que o indicador gini de capital somado à renda, mascara o poder dos rentistas, enquanto sabe-se que esta desigualdade é por demais potencializada com ações de patrimonialismo, corrupção e desvios de orçamentos públicos. Uma das sugestões de Piketty (Polêmica) é taxar os mais ricos com, por exemplo, impostos sobre grandes fortunas, de tal forma que o estado lidere e reproduza uma distribuição mais equânime: os 10% mais ricos ficariam com 30%do capital nacional, os 50% mais pobres com25% e os do meio com 45% (contra os atuais 10% mais ricos com mais de 50% de renda e capital, os 50%mais pobres com menos de 20%).

Nas notas de conclusão, o autor dá uma estocada em textos consagrados de Sartre, Althusser e Baldiou - seguidores de Marx, que segundo ele, não apresentam com o mestre, soluções sobre a questão do capital e das desigualdades entre classes sociais, por terem sido comunistas engajados, e usarem esses dados para lutas de outras naturezas. Tudo isso faz muito sentido, ao olharmos para este seco, desigual e esquecido País no lado de baixo do equador.

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU

debatef@debatef.com

IDH-Índice de Desenvolvimento Humano e a Afrodescendência


O início do governo Lula trouxe esperança-hoje já uma gasta redundância- às classes C, D e E do extrato social brasileiro, onde a maioria, segundo pesquisa do IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-WWW.IPEA.GOV.BR- é negra ou parda (cerca de 70%), e habitam as periferias das grandes cidades brasileiras.

O IDH-Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, é um indicador de Qualidade de vida criado pelo cientista paquistanês Mahbub Ul Haq e varia de 0 (pior) à 1 (melhor), tendo por definição três pilares: renda per capita, longevidade e educação. Segundo os dados do IPEA-2001, o Brasil possui IDH de 0,750 semelhante a países como Arábia Saudita e Filipinas. Ainda segundo estes dados, dentro do País existem duas distintas populações: a dos brancos com IDH 0,805, considerado um alto índice de desenvolvimento Humano (quadragésimo sexto lugar no mundo, como a Croácia e Emirados árabes) e a dos negros com IDH 0,691 considerado baixo Índice de Desenvolvimento Humano (Centésimo primeiro lugar no mundo como Vietnã e Argélia). Estas populações representam respectivamente 54% e 45% do total de brasileiros, e seus indicadores apontam um fosso entre as mesmas: na renda familiar em reais- 406,35 x 174,26-; na taxa de alfabetização na população maior de 15 anos -91,7% x 80,2%-; na expectativa de vida ao nascer em anos -71,23 x 65,12-.

Trabalho multidisciplinar levado a efeito no Centro Universitário do Triângulo e na UFU entre 2002 e 2003 identificava cinco grandes áreas de estudo para melhoria da Qualidade de Vida nos afrodescendentes brasileiros: 1-Imagem-auto-estima (agravada pelos veículos de comunicação); 2-Conhecimento-Educação (ausência de negros - <1% - nas faculdades e universidades brasileiras); 3-Longevidade (os afrodescendentes morrem mais cedo pela mandatária e maior exposição aos riscos); 4-Renda (Ainda há trabalho escravo no país, o que se supõe renda zero para milhares –OIT- de pretos e pobres); 5-Meio Ambiente (A degradação ambiental atinge principalmente as periferias onde a maioria da população negra é vítima e também agente da poluição).

O Projeto “Qualidade Ambiental e Qualidade de vida em Bairros Periféricos de UDI”, onde é claro, vivem a maioria de afrodescendentes, foi apresentado por este professor no colegiado CNPQ-PALMARES de Brasília em abril de 2003 e considerado como diretriz pelos demais conselheiros, a maioria afrodescendentes como este escriba. Estávamos no fim do governo FHC, e a instalação deste colegiado no CNPQ com verbas e atenção ministerial se deu após muitos anos de luta da comunidade negra do Brasil. Veio o governo Lula e não reconduziu o Conselho, mas contingenciou as verbas de pesquisa pois havia reconduzido a política econômica de FHC com rigores maiores, para obtenção de superávit público, e agora se vê “emparedado” frente à sérios desvios éticos de conduta com dinheiro de contravenção. Negritude e desesperança, até quando?


Prof.Dr José Carlos Nunes Barreto

Sócio-diretor da DEBATEF CONSULTORES ASSOCIADOS S/C LTDA e Professor Universitário

A Educação e a Fome


“O Homem não é nada além do que a educação faz dele”.

Immanel Kant


Revisito hoje um artigo de oito anos atrás em que indagava como o famoso rock: Você tem fome de que? Educação, eu completo, além de comida... bebida, diversão e arte- que ainda é a resposta do verso. Faz parte- e pra ser feliz, devemos assim, compor um hino à qualidade de vida. Mas até para reconhecer isso e preciso de professor e escola de qualidade. Sem eles não se tem a luz. E claro, depois vem à comida. É esta nossa fonte de sobrevivência, além de cultura e prazer, mesmo quando não se pode comer um macarrão com molho de tomate da mama aos domingos, por causa da inflação dilmista. Contudo, ainda há falta de alimento para bilhões de pessoas no mundo, e para milhares aqui ao nosso lado. E se não bastasse essa ausência de “fome zero”, a realidade nos remete para intoxicações e contaminações de alimentos diariamente, pelo abuso no uso de agrotóxicos que fazem do Brasil o maior consumidor mundial desses venenos, além do paradoxal desperdício, que em alguns itens chega a mais de 50% entre o produtor e a nossa mesa, haja vista as perdas da maior safra de grãos de nossa história, derramada pelas estradas engargaladas, contaminadas em caminhões, num atentado à ciência logística e ao bom senso.
 Bem dizia meu avô: “bicho de goiaba é goiaba”. Mas no tempo dele não se derramava tanto veneno de avião. Hoje quando vejo um bichinho desses, sorrio e aprovo a fruta porque como indicador biológico, ele me passa a mensagem: ”Se eu sobrevivi, você sobreviverá também”.

Quanto à bebida, por exemplo, endemicamente temos casos de Mal de Chagas registrados principalmente no norte e nordeste em bebidas como o açaí e caldo de cana, e todas as vezes que há este tipo de ocorrência, um sem número de sub notificações acontecem, ou seja muita gente adoece ou morre, sem que a autoridade sanitária sanitária tenha o registro correto da causa.

O que dizer da diversão e arte? dar risadas, estudos comprovam, _são um antídoto pra depressões a e a falta da libido, além de grande aliado na higidez do corpo contra doenças. Mas o que o cenário artístico e cultural de uma cidade do interior como Uberlândia oferece? quase nada! Daí a se louvar a proposta da terceira conferência municipal de cultura do novo governo- ainda uma promessa- para diagnosticar a fome de cultura e lazer em nosso povo, que deveria consumir cultura e arte, como se come arroz com feijão e se bebe caldo de cana. A grande sacada dos americanos para dominar o mundo foi o paraíso dos filmes de Hollywood. Hitler até tentou com museus, artistas, e música clássica de wagner. Quando não se conquista pela força, se chega a bastiões antes inacessíveis de uma nação pela estratégia do conhecimento, da cultura e da arte. Viva Bibi ferreira que estréia na Broadway aos 90, levando nossa cultura e arte ao mundo. Precisamos das milhares de Bibi que estão sem brilhar ainda.

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Chão de Estrelas


“Eu canto/ porque o instante existe/ E minha vida esta completa/ não sou alegre / nem sou triste/sou poeta”.

Cecília Meireles

Cartola escreveu: “A porta do barraco era sem trinco/ mas a lua furando nosso zinco/ salpicava de estrelas nosso chão...” a proposito, esta poesia sintetiza a criatividade e visão estratégica de alguém que estava no limiar da base da pirâmide de Maslow - uma pessoa obstinada, que depois subiu até o topo da vida, por entender que naquele chão havia um céu. Nós da revista sciencomm nos espelhamos nesta poderosa visão, para aproveitar ideias e soluções de TCCs (trabalhos de conclusão de cursos) dos cursos de engenharia e administração, muitos deles relegados a uma simples brochura de capa dura, depositada na biblioteca de uma instituição de ensino superior (IES)- verdadeiro chão batido -para publicá-las em nosso sítio www.revista.sciencomm.com.br, beneficiando toda sociedade e evitando que deixem de brilhar, juntamente com seus autores e coautores.

Vida dura, a de editor de revista científica com essa proposta, neste País: falta matéria prima, primeiro por causa da lacuna na formação de nossos alunos e até professores, na língua pátria, depois, falta incentiva a experimentos e iniciação científica - por ultimo, percebe-se uma continuada anomia na gestão de talentos, por parte de organizações que deveriam estimulá-los.

Como sabem, tenho delegação do MEC para avaliar o universo de projetos de curso, instalações, professores, e Instituições de ensino superior Brasil afora, que me proporcionou nos últimos dez anos, o registro do desperdício de milhares de oportunidades para publicação de artigos, jogadas no lixo da história por parte de orientadores e Instituições. Isto equivale negar à comunidade de negócios e à sociedade como um todo, o resultado de pesquisas, inovações e soluções na área do conhecimento ocorridas na academia, que turbinariam a produtividade, gerariam patentes, e aprimorariam talentos humanos.

Pior: os números mostram que menos de 20% dos professores publicam, inclusive os mestres e doutores, o que invariavelmente obriga a equipe de avaliadores do MEC dar nota 1 ou 2 ( variação de 1 a 5) neste quesito. Sempre comparo o artigo científico à uma caçamba  com corda, através da qual se retira do fundo do poço do conhecimento, insumos para uma sedenta  sociedade, ansiosa  por matar a sede por inovações, produtividade e soluções inadiáveis para seus constantes desafios operacionais, até mesmo existenciais. Há, portanto um crime de lesa pátria sendo perpetrado por quem deveria zelar pela formação de pessoas, e pela geração de conhecimento no País.

Deixando claro que contamos com o concurso de uma das melhores agencia de regulação do mundo na área da educação- O INEP- que apesar disso, padece a meu ver, de uma miopia estratégica, ao não exigir um plano de ação imediato para mudar este importante paradigma.

Saúdo desta forma, a chegada do quarto número da #revistaciencom, certo que o mesmo cumprirá sua missão de divulgar artigos científicos garimpados como pedras preciosas retiradas do chão de escola. Contribuirá assim para o crescimento da inovação no País, através do fortalecimento da vocação de seus talentos humanos. Será mais uma lâmpada da ciência. Haja luz!

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU
debatef@debatef.com

Água Seis Sigma Já


Domingo foi o dia mundial da água e eventos em todo mundo marcaram a data, que no Brasil, com as raras exceções de sempre, passou batido, principalmente nas prefeituras que operam os sistemas de saneamento, incumbidos de gerirem a água potável, e que se caracterizam como um dos mais ineficientes e ineficazes do mundo, com perdas médias de 42%, e em alguns casos (10 empresas, segundo o Snis - Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento, por exemplo no Piauí, Amazonas, Acre e Alagoas), desperdiçando mais de 50% do líquido antes que chegue à torneira do usuário, contra uma benevolente indicador de no máximo 20% da ANA- Agência Nacional da Água.

O índice 20% já é um absurdo frente às perdas toleradas de outras manufaturas de no máximo 2%, sem falarmos nas excelentes que são seis sigmas e erram 3,4 erros por milhão de operações, o que representaria 0,00034%, e zeraria os vazamentos de água, utilizando uma já consolidada tecnologia de gestão testada com êxito em grandes empresas como 3M, NOKIA, TOYOTA, MARTINS, entre outras.

A maioria das empresas está na faixa de 30%,caso da COPASA em Minas Gerais, que com esse índice joga no esgoto 777 milhões de litros de água/dia(só na capital BH 222 milhões de litros/dia), o que garantiria duas vezes o abastecimento da capital mineira em um dia.A ineficiência é por definição proporcionar um out-put, utilizando alta quantidade de recursos, quando comparado a um benchmark que gasta bem menos para atingir o mesmo resultado.Como não existe almoço grátis, quem paga a conta é o contribuinte, e a empresa quando não é monopólio, caso das operadoras de água, é descartada como fornecedora, por outra concorrente com melhores serviços e preços menores.

Há, no entanto uma preocupação maior, que foi desenhada nas conferências mundiais sobre o clima, que é o fato de cada vez mais bilhões de pessoas ficarão sem acesso à água potável neste século, e os números da OMS mostram que já hoje, em diversas partes do planeta a cada oito segundos morre uma criança por falta de água potável, o que equivale a 3 milhões de meninos e meninas mortos por ano.

É mandatário, portanto, criar políticas públicas para educar a população a melhorar o seu padrão de consumo, para evitar absurdos vistos todos os dias, por falta de conscientização. Mudar a legislação, focando no conceito de pegada hídrica (volume de água doce usado para produzir os bens e serviços consumidos por pessoa, empresa ou país), na taxação dos grandes consumidores que esbanjam. Por exemplo, para exportarmos 67,5 milhões de toneladas de grãos no Brasil, ano passado gastamos cerca de 70 bilhões de litros d’agua. Como não se cobra eficiência também no uso, a irrigação perde, segundo especialistas, 50% do que aplica, com técnicas de inundação e por gravidade, já que poucos usam o gotejamento, mais eficaz indo ao ponto, e com baixo consumo de água, portanto eficiente.

Além disso, poluímos muito a água que usamos e não a reciclamos. Mesmo a água tratada, está cada vez mais insegura, pois as ETAS não dispõe de tecnologia para tirar alguns produtos químicos tóxicos e cancerígenos a taxas de 0,00000008g/l, como dioxinas e furanos, ou hormônios, ou qualquer outro produto perigoso criado ao redor do mundo enquanto você lia este artigo.

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br