quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Os Novos Refugiados

Fazendo uma releitura do livro do professor da Universidade da Califórnia Jared Diamond “Colapso-como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, quando peço vênia a meus leitores, para comparar situações que já presenciei - e relato hoje como sobrevivente, do “Vale da morte” em Cubatão- com outras análogas e desesperadoras que estão acontecendo agora no mundo, vividas por centenas de milhares retirantes, fugindo das guerras na Síria, Iraque e Gaza refém das lideranças do Hamas atacadas por Israel, além das infindáveis guerras africanas e do tráfico no Brasil... Com este pano de fundo, reflito sobre a pergunta do autor: “ O que é mais assustador do que o espectro do colapso de uma geração - os restos dos templos abandonados de Anykor Wat, no território de Camboja, das cidades Maias tomadas pelas selvas, ou a vigília sombria das estátuas (Moais) da ilha de Páscoa?”
Há ainda outro panorama catastrófico sugerido pelo mesmo: o horror das pestes que se aproximam, na esteira das crises sociais e ambientais, principalmente a contaminação pelo vírus ebola. Aliás, o único país que pode ensinar ao mundo como fazer gestão pós catástrofe é o Japão pós- Fukushima. Um ano após o desastre, e depois de aplicar um trilhão de dólares em projetos de reconstrução, o País já estava recuperado do pior. Porém nem sempre é assim: vide o pós-tragédia de Petrópolis e Teresópolis no Rio de Janeiro e o Pós- Katrina em New Orleans. Aqui, roubaram as doações aos desesperados, lá, os americanos, que possuem a melhor logística, as melhores tecnologias, deram aquele espetáculo de despreparo... É ou não é para se preocupar? Nosso SUS não aguenta sequer a dengue endêmica, e bancar o nascimento de crianças nas santas casas ao redor do País. Suponhamos uma doença como o ebola, que em uma semana evolui para uma morbidade de 70% dos casos!
Em Cubatão, nas décadas de 70 e 80,eu, engenheiro, aos 33 anos, na chefia da produção de aço da Cosipa, hoje Usiminas, não tinha a exata noção de tudo aquilo. Mas meus dirigentes tinham. Haviam comprado um equipamento absoleto francês sem o lavador de benzol -cancerígeno- e esconderam isso da sociedade. Nas favelas ao lado da fábrica - anomalias em fetos (anencefalia) eram noticiadas dentro e fora do País, todavia o ar que respirávamos era o mesmo, e muitas colegas choravam dentro da fábrica, ao ficarem grávidas.
E pensar que a recuperação ambiental daquele polo sídero - petroquímico, e do entorno da serra do mar, por uma equipe multidisciplinar- da qual tive a honra de fazer parte, livrou nosso principal parque industrial de ser, hoje, uma ilha de Páscoa - e as fábricas de lá, de serem nossos Moais. Nessa hipótese, nas décadas “perdidas” de 80 e 90, doentes de câncer e refugiados ambientais, teriam sido retirados daquele município, correndo dos deslizamentos da serra do mar, também sobre as demais cidades da baixada, e o porto santista. Graças a Deus, e às tecnologias multidisciplinares da Engenharia e da saúde ambiental da USP, e Academia brasileira, isto não ocorreu. Que um possível novo governo de oposição, as usem em favor da sociedade no Brasil, para evitar novos quadros de refugiados ambientais e sociais previstos na poderosa visão de Jare Diamond.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da Debatef Soluções e Conhecimento
debatef@debatef.com


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