quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A Revolução dos Bichos e o PT

      No último feriado, escolhi como releitura “A revolução dos bichos“ de George Orwel, e o que mais me chamou a atenção, foram os dois pósfácios escritos pelo autor: o primeiro reeditando o prefácio de 1945 endereçado à inteligência britânica e americana, o segundo de 1947, endereçado às pessoas comuns da URSS. Em 1945, a Rússia era aliada dos ingleses e americanos contra o nazifacismo, e por isso o constrangimento foi geral quando identificaram na fazenda dos bichos, o regime centralizador da Rússia, e em seus dirigentes, os porcos que comandavam. Orwel em sua bela sátira, analisa a teoria de Marx do ponto de vista dos animais, em contraponto à dominação humana, fazendo clara alusão à experiência soviética como um todo. Daí o choque de frente com a “real politik” ocidental, com sua elite preferindo “acreditar” nos relatos fantasiosos que a imprensa vermelha estatal fazia dos processos de Moscou. Esses países não quiseram “sujar as mãos” e recontar a história mudada pela propaganda comunista, e por isso o autor, inconformado, a transformou em uma estória de bichos, que se rebelaram contra seu dono e o expulsaram da fazenda, assumindo eles mesmos a gestão da produção.
      Escreveram sete mandamentos, e à medida que o bonapartismo da liderança dos porcos fica claro, a lei vai sendo mudada para favorecer os ocupantes do poder. Uma comunicação atroz, faz as ovelhas se convencerem, que alguns bichos são mais iguais que outros, por isso “merecem” algumas regalias. Depois, mais e mais poder centralizador, concentração de renda, a tal ponto que os bichos de quatro patas até já estariam andando de pé, como os homens do “ancién regime”. E suas atrocidades e expurgos até extrapolam o que se fazia antes, e que se tornara motivo da tal revolução.
Refletindo sobre o assunto a fim de interpreta-lo para o Brasil de hoje, relembro da revolução que nós, como os bichos dessa estória, pensávamos que faríamos quando colocássemos o PT no poder. A primeira mudança dos “mandamentos” veio na “Carta aos Brasileiros”, quando descobrimos que a política econômica seria a mesma do governo anterior. Depois de decepção em decepção, até ao mensalão e à ameaça do impeachment do porco mor foi um pulo. Aí veio a propaganda e procurou apagar e esconder do povão os podres do atual regime, e anão ser para os bem informados e que podem comprar jornais, revistas e conteúdo na internet, conseguiu-se a maioria eleitoral com a gestora do governo anterior, que embora desconhecida, surfou na onda do seu criador-um fenômeno de comunicação de massas. Pois bem, já se foram os cem dias do governo Dilma e o pior não aconteceu. Acho até que ela foi muito bem ao trazer de volta a austeridade ao cargo presidencial, e trabalhar direitinho todos os dias, dando o exemplo que faltava aos trabalhadores deste país. A popularidade está em alta por isso, primeira mulher no governo, cuidadosa, austera, sem estrelas que pudessem mandar mais que ela. Mas os resultados estão pífios. Seus projetos não decolaram. O PAC aí está com seus absurdos. Como o trem bala sem pé nem cabeça e A exemplo do que aconteceu com a elite americana e européia na década de 40, a nossa intelligentsia, nossa mídia, nossas sensatas lideranças, parece que já foram cooptadas pelo carisma maligno deste Napoleão de São Bernardo, e não estão querendo “sujar as mãos”. Por outro lado o País anseia por respostas para questões candentes como segurança pública, saúde e educação, muito mais que sentar no G20 da ONU, pois para pensar em liderar o mundo, precisamos primeiro cuidar de nós mesmos, pois ao contrário da fábula, não existem homens que são mais iguais que outros.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

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