terça-feira, 30 de setembro de 2014

Crônica do imaterial

“Não me ofereça ferramentas./Ofereça- me o benefício e o prazer de fazer coisas bonitas./.../Não me ofereça coisas./Ofereça-me ideias, emoções, ambiência, sentimentos e benefícios./Por favor, não me ofereça coisas” autor desconhecido.

Interessante e estressante este País: Chama a policia para tirar cento e poucas famílias de um prédio abandonado por seus donos no centro de SP (o que ocorre em qualquer cidade neste mundão de Deus), e permite que 2 milhões de casas de alto padrão avancem sobre as bordas do manancial ,em área de preservação ambiental - às vésperas da maior seca dos últimos 100 anos na região. Nova York – aquela do rio Hudson, não teve este azar, pois seus dirigentes há 20 anos atrás, fizeram um planejamento para evitar que suas fontes de água fossem dilapidadas. Chamaram cada produtor rural que possuía essas fontes em suas terras, e decretaram: Agora vocês são produtores de água, e vamos paga-los por isso. Simples assim.

Não é a toa que o candidato falecido (ou assassinado?) do PSB avisava para não desistirmos desse País. Porque não está fácil. Os jovens e os não tão jovens, estão esperando o que vai dar esta eleição, para levarem suas cabeças a passear (e viver menos estressadas) na Austrália, no Canadá, na Inglaterra etc...onde  a educação ,a saúde ,a segurança e outros paradigmas imateriais ,realmente  prevalecem, e onde quem, às duras penas  estudou, tem seu valor reconhecido.

Ademais aqueles 0,01% de humanos representados por tais casas acima citadas, são os donos do Território nacional. Para eles tudo pode. O aparato da lei existe para protege-los, pois pagam excelentes advogados, e muitos, pertencem à nomenclatura do regime, onde, no anedotário político, se diz: para os amigos tudo-para os inimigos a lei. Triste País! E tais políticos voltam todos os anos a comprar votos e consciências ,seja com dinheiro vivo, seja com cargos, pelos motivos de sempre, desde o império: o poder pelo poder.

Conheço um deputado “amigo” que só me dá atenção em vésperas de eleição. Estive em Brasília com alguns intelectuais co-autores de um artigo, com soluções candentes e necessárias à republica, e ele se disse muito ocupado(hoje sei-talvez com o mensalão ou quem sabe o petrolão). Sequer nos ouviu, e passou o documento para seus assessores, que fizeram o favor de engaveta-lo.

“Casas? saneamento básico? Educação? Ha!Ha! Há!-Queremos saber quanto ganharemos. Qual é o percentual sobre o contrato?3%???”. Este hipotético diálogo, foi ouvido diversas vezes por procuradores da república, antes de prenderem alguns figurões. Fizeram do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto um balcão de negócios. E daí partiram para as estatais. A Petrobrás que o diga. Emporcalharam o templo da Nação-são cambistas imundos, piores que aqueles da época do Cristo. Se não fizermos como o mestre-descermos o cacete- e prendermos esta corja, estaremos comprometendo o futuro do imaterial, da esperança que ainda alenta nossos jovens.

Concluo com as palavras do salmista no exílio: Ele dizia- “Quem vai andando e chorando enquanto semeia, trará na volta, com alegria, seus molhos nos braços”. Pura poesia da esperança.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da ALU-Academia de Letras de Uberlândia

debatef@debatef.com

Não é o dinheiro!

“Não me amarra dinheiro não/.../a formosura..aa/
Cancioneiro popular

Um iluminado artigo de Nizan Guanaes semana passada, na Folha, me inspirou a ponto de escrever hoje, sobre a estupidez de pessoas só fazerem as coisas por dinheiro. Principalmente as que formam gente, as que cuidam da saúde, e as que são pastoras de almas. Dizia ele: “Quem pensa só em dinheiro, não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha”. Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro.

            E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma. A propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar dos leprosos, diz: “Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo”. E ela responde: “Eu também não, meu filho”.

Algumas pessoas de biografia impar, como o senador Pedro Simon, mancham-na após 50 anos de impoluta vida pública, ao tentar ganhar um dinheiro legal, mas imoral, advindo de uma aposentadoria polêmica de governador. Outros, religiosos, de tal forma se macularam que, não coram mais de vergonha ao aparecerem nos jornais, em escândalos de desvios de milhões de dólares, a partir de ONGs criadas para desviar dinheiro do erário. E para onde vai o “larjean”? Para compra de aviões de luxo, roupas de grife, haras de cavalos de raça. Uma boa notícia: alguns fiéis já estão na justiça para reaver terrenos e casas, que doaram em pleno transe, que pensaram ser do espírito santo, mas que na verdade era do maligno. Aqueles são grandes canalhas, pois precisaram sonhar antes para roubar, primeiro as pessoas, e depois o estado. Todavia existem os pequenos canalhas, no dia a dia, que tiram dinheiro até de viúvas, para com sua incompetência, aplicarem mal, fazendo investimentos em nome da coletividade, no que não entendem.  Mesquinhos de alma, fazem questão de centavos, e não dão um pão à própria mãe, mas são capazes de fazer sermões ,por horas ,sobre o que é ser misericordioso.A respeito destes Jesus advertiu que são sepulcros caiados. E pensar que o apóstolo Paulo nada tinha, a não ser uma bela capa, que ordenava a seus seguidores trazê-la para poder enfrentar o frio!

Hoje alguns destes só mudam de cidades para ganhar altos salários e morar em bairros elegantes, além de outras exigências, dignas de cantor de rock. Fazem o que fazem por dinheiro, por isso tenho pena deles, pois assim terminam ganhando muito pouco nesta vida, em que Deus dá aos seus filhos, segundo o salmista, fortunas enquanto dormem.

           Para que dinheiro? Pois é ... e nesta linha o  Nizan vai, focando nas pessoas, que mais parecem a igreja de Laodicéia do apocalipse: “nem quente nem frio”,  fazem qualquer coisa por dinheiro, sem por a alma no ofício: o texto sagrado afirma que “Deus a vomitará”. Rarará. Antes fosse fria. Necessitando de misericórdia, e buscando-a!O mesmo recomendo para meus discípulos: Nota ruim? Tropeço? Tudo colabora para podermos dar a volta por cima. Melhor isso e aprender depois da derrota, que construir uma média anã que o incapacite como profissional depois. Digo mais: buscando de fé em fé, Deus o abençoará como fez com Jacó. Que assim seja.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor
debatef@debatef.com.br




Das Ferramentas

“Deem- me uma alavanca e erguerei o mundo”. Arquimedes

Com uma simples colher de pedreiro ele ia montando, tijolo por tijolo a parede da creche. O ambiente era de cooperação e companheirismo. Antes de começar esta tarefa em pleno sábado à tarde, sol a pino, ele levara as crianças ao bosque do parque, para protege-las do calor. Estas atividades fazem parte do que se convencionou chamar de voluntarismo. Ser voluntário é fazer algo pela sociedade, sem receber pecúnias como pagamento pelo serviço: construir pontes para comunidades isoladas, alimentar mendigos, dar um lar a cegos, plantar árvores, levar velhinhos do asilo ao sol da manhã. Para a maioria de cidadãos, durante um longo tempo de suas existências, gestos como estes são ou eram impossíveis de serem realizados, por causa da correria da vida, todavia em certo momento, depois de um sermão de um pastor de almas - daqueles que tocam o coração da gente, ou após  uma caminhada como a de  Santiago de Compostela  na Espanha, a saída é participar, para saciar a sede de ser útil, de ser um agente do “Reino de Deus na terra” , e , voltando à colher de pedreiro, ela  foi a ferramenta usada para dar  forma , função  e propósito à esta  nova realidade.

Ao refletirmos sobre a importância das ferramentas, precisamos nos lembrar da dificuldade que é não a possuirmos nos momentos decisivos da vida, por exemplo quando, ao voltarmos à idade da pedra ,em situações de sobrevivência –tipo “Discovery cannel”,    nos vermos com  a necessidade de construir algo que corte ou que faça fogo . No dia a dia, no entanto, nem nos damos conta da benção que é usufruirmos de todas  tecnologias desenvolvidas durante séculos ,  do simples garfo até um dispositivo para trabalhar com softwares, como um  notebook.

Mas ferramentas nem sempre são usadas para o bem. Uma arma de fogo, por exemplo, pode servir para um louco tirar a vida de uma dezena de crianças numa escola do Rio de Janeiro, e ferir outra dezena delas. Ou seja, ferramentas podem ser usadas para maldição, para machucar e deixar sequelas físicas, mentais e espirituais. Ao pensar sobre este massacre, considerado o décimo maior do gênero no mundo, e como ex-professor da rede pública em SP, me recordo do dia em que fui ameaçado por um aluno drogado, e que havia entrado com um revolver, isso após repreendê-lo por mal procedimento em classe. Até hoje, passados quase vinte anos, meu coração se entristece, ao lembrar do impacto negativo daquela situação sobre minha vida e sobre os demais alunos daquela classe.   Dias depois do ocorrido, ao participar do conselho da escola, sugeri e foi acatado e realizado, a instalação de um detector de metais- outra ferramenta, que tantos anos atrás nos ofereceu  a segurança que faltava. Será que é tão caro assim este dispositivo? Ou será falta de cuidado com as vidas humanas que entram em uma escola? Se em bancos, lojas de departamento, shoppings, aeroportos não se entra ou sai sem se passar por este equipamento, porque não na escola?

Concluo, me solidarizando com as famílias enlutadas, e lembrando às autoridades nacionais da educação, já tão humilhada neste País, que o uso ou a falta de ferramentas adequadas numa escola, podem fazer a diferença entre a vida e a morte de nossos filhos.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Educação e competitividade


“Todo gestor é um gestor de pessoas” Cavalcanti apud Annelise

A falta de competitividade do país, a meu ver esta escancarada com a ausência de produtos de nossa indústria que possam, a preços competitivos, abastecer o mercado interno brasileiro. Tudo que fazemos é pior e mais caro. Ir a Miami fazer a sacola, infelizmente, faz parte da agenda de nossa classe média e alta, que gasta sofregamente bilhões de dólares por ano que fazem falta aqui. Afinal, porque isso acontece na sétima economia do mundo?
Como consultor e professor tenho lutado à exaustão, contra este paradigma. Muitas empresas e alunos que tenho ajudado nesta batalha, conseguiram expressivas vitórias, todavia, tenho números entristecedores, sobre como a educação neste país tem levado a humilhantes derrotas, pessoas e organizações, principalmente as últimas onde empreendedores que iniciam negócios perdem economias de décadas, e empresários sêniors tem prejuízos inaceitáveis. Quando contratado para implantar um sistema integrado de gestão, com as normas de gestão da qualidade, meio ambiente e saúde ocupacional-um trabalho que exige da liderança empresarial alto comprometimento, em tempo e investimentos, constato o não treinamento de pessoal e a falta de consolidação do redesenho de processos. No caso de alunos, muitas vezes já no MBA ou mestrado, a mesma falta de gastar tempo, agora em estudos e pesquisas, aliada a lacunas na formação, faz 30 por cento dos mesmos desistirem.
Há no ar uma cultura da falta de qualidade em tudo que se realiza aqui. Constitui-se exceção o sucesso, e não o contrário. Daí a perda de energia em tudo que é out put (saída). O elevado preço cobrado pelo retrabalho em nossos itens industriais, e a ausência de eficiência e eficácia ao formarmos gente, para cuidar da miríade de processos – explicam como operar desastrosamente uma nação.
Neste contexto podemos colocar a construção da “copa das copas” em 2014, a um custo maior que ao da soma das três últimas três copas realizadas ao redor do mundo. E a um preço exorbitante em  perdas de vidas jamais acontecido. Uma vergonha nacional (ainda temos?),que mostra o quanto precisamos revolucionar a educação para a qualidade.  A começar em nossas escolas, não com slogans vazios como “Esta é uma cidade educadora”- sem prestigiar e treinar professores, construir creches equipar escolas, padronizar processos críticos e medir resultados a partir de indicadores como o IDEB,- e aí sim fazer planos de ação “matadores” .
É triste pensar que a história tem sido madrasta com o Brasil: 36 anos de ditadura Vargas e militar aprisionaram a criatividade e o empreendedorismo; quatrocentos anos de escravidão moldaram um desprezo pelo trabalho em seus detalhes. Isto tira os empresários, a academia e a elite do chão de fábrica, chão de loja e chão de escola. E é lá que as coisas acontecem.  É lá que a produtividade aparece ou não- já que é onde está o ser humano, com suas ilimitadas possibilidades de desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes, que gerem  inovação e riquezas.
Estamos no limiar de um novo tempo de oportunidades de mudanças. Contudo há falta de propostas de lideranças da oposição que sacudam mentes e corações dos brasileiros em direção a esta revolução – um resgate da tirania do inconsciente coletivo do passado , e um seguro caminho rumo a um novo oriente – sucesso  por vir.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da ALU-Academia de Letras de Uberlândia

debatef@debatef.com

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Futebol e inconsciente coletivo


“Amanheceu o pensamento/ que vai mudar o mundo/com seus moinhos de vento” Cazuza

A copa aconteceu, e a sabedoria do povo está goleando a nossa nova elite estabelecida, e a antiga também. Primeiro, separou os anarquistas do quanto pior melhor, daqueles que protestam por causas notáveis e necessárias à cidadania. Depois torceu como nunca, cantou o hino nacional à capela e estabeleceu o costumeiro clima cordial que encantou os 600 mil turistas que entraram de avião, e outros estimados 500 mil que passaram pelas nossas fronteiras secas de moto, carro trem ou ônibus. Dando um recado claro: não tentem tirar proveito político deste evento que encarna para nós a pátria de chuteiras. Roubar vocês já roubaram. Agora nos deixem curtir o jogo em paz. O País, portanto, está vivendo uma coisa de cada vez. Não esqueceu as estripulias contábeis de dona Dilma, que está lançando como despesas de saúde e educação, gastos exorbitantes das arenas exigidas pela FIFA. E só está esperando o momento certo para cobrar de novo, o uso correto do dinheiro público, em suas prioritárias agendas.
Gosto de observar como pessoas humildes e não letradas possuem elevado senso de justiça social, e como herdamos isso dos índios brasileiros, que usam o bem estar coletivo como forma de vida. Se alguém enriquecesse na aldeia, com certeza repartiria com suas ocas o novo pib coletivo. Em algum ponto de nossa história passamos a importar a ética do “lobo de Wall Street” em nossas relações de concidadãos- e aí perdemos muito, principalmente parte da tal felicidade, que é o indicador chave. Neste contexto, o futebol aparece como o esporte mais popular do mundo, usa a leveza e a arte como matéria prima, e traz o inconsciente coletivo-aquela aura de euforia pela vitória, ou de tristeza absoluta na derrota, que transpassa mentes e corações à baila como protagonista. Faz crianças aprenderem a cantar o hino pátrio, muitas vezes com um “pátria amada, goiabada salve, salve”. E nos encanta, quando tira um menino franzino de um campinho de terra batida no agreste nordestino, e o eleva à condição de estrela mundial por gramados “nunca dantes navegados”.
O poeta perguntaria: “mas quem tem coragem de ouvir?” idêntica pergunta feita ao vento por São João Batista: Quem ouviu a nossa pregação? Com certeza não foi à elite branca que vaiou as autoridades na pífia abertura dos jogos. Eles tem ouvidos moucos diria meu avô. E visão pior, eu afirmaria. São cegos que cismaram de guiar a Nação. E a riqueza do momento é identificar   o povo de olhos abertos, se desviando das pirambeiras a que são levados diuturnamente.
Quando uma empresa planeja seu futuro, é obrigada a fazer seminários com seus stackholders (parceiros/colaboradores/acionistas) para explicitar a sua visão. Ou seja, como ela quer se ver daqui a algumas dezenas de anos à frente. A própria Fifa –com todos seus senões, nos ensina como planejar para o cenário de 2022. E não aprendemos? Não conseguimos planejar nossas revoluções na educação, e nas áreas sanitária fiscal e política!? É bom frisar que nem sempre foi assim: Juscelino Kubisheck construiu Brasília do nada uma cidade modelo da arquitetura mundial, no cerrado vazio do planalto central em 5 anos e realmente fez 50 anos em 5. E o que ele tinha? rompia em fé e Visão. Que seu exemplo sirva, portanto, de inspiração àqueles que se apresentam agora como alternativa real de poder para realizar as mudanças sonhadas e cobradas durante esta copa do povo.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da ALU-Academia de Letras de Uberlândia
debatef@debatef.com

Os Novos Refugiados

Fazendo uma releitura do livro do professor da Universidade da Califórnia Jared Diamond “Colapso-como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, quando peço vênia a meus leitores, para comparar situações que já presenciei - e relato hoje como sobrevivente, do “Vale da morte” em Cubatão- com outras análogas e desesperadoras que estão acontecendo agora no mundo, vividas por centenas de milhares retirantes, fugindo das guerras na Síria, Iraque e Gaza refém das lideranças do Hamas atacadas por Israel, além das infindáveis guerras africanas e do tráfico no Brasil... Com este pano de fundo, reflito sobre a pergunta do autor: “ O que é mais assustador do que o espectro do colapso de uma geração - os restos dos templos abandonados de Anykor Wat, no território de Camboja, das cidades Maias tomadas pelas selvas, ou a vigília sombria das estátuas (Moais) da ilha de Páscoa?”
Há ainda outro panorama catastrófico sugerido pelo mesmo: o horror das pestes que se aproximam, na esteira das crises sociais e ambientais, principalmente a contaminação pelo vírus ebola. Aliás, o único país que pode ensinar ao mundo como fazer gestão pós catástrofe é o Japão pós- Fukushima. Um ano após o desastre, e depois de aplicar um trilhão de dólares em projetos de reconstrução, o País já estava recuperado do pior. Porém nem sempre é assim: vide o pós-tragédia de Petrópolis e Teresópolis no Rio de Janeiro e o Pós- Katrina em New Orleans. Aqui, roubaram as doações aos desesperados, lá, os americanos, que possuem a melhor logística, as melhores tecnologias, deram aquele espetáculo de despreparo... É ou não é para se preocupar? Nosso SUS não aguenta sequer a dengue endêmica, e bancar o nascimento de crianças nas santas casas ao redor do País. Suponhamos uma doença como o ebola, que em uma semana evolui para uma morbidade de 70% dos casos!
Em Cubatão, nas décadas de 70 e 80,eu, engenheiro, aos 33 anos, na chefia da produção de aço da Cosipa, hoje Usiminas, não tinha a exata noção de tudo aquilo. Mas meus dirigentes tinham. Haviam comprado um equipamento absoleto francês sem o lavador de benzol -cancerígeno- e esconderam isso da sociedade. Nas favelas ao lado da fábrica - anomalias em fetos (anencefalia) eram noticiadas dentro e fora do País, todavia o ar que respirávamos era o mesmo, e muitas colegas choravam dentro da fábrica, ao ficarem grávidas.
E pensar que a recuperação ambiental daquele polo sídero - petroquímico, e do entorno da serra do mar, por uma equipe multidisciplinar- da qual tive a honra de fazer parte, livrou nosso principal parque industrial de ser, hoje, uma ilha de Páscoa - e as fábricas de lá, de serem nossos Moais. Nessa hipótese, nas décadas “perdidas” de 80 e 90, doentes de câncer e refugiados ambientais, teriam sido retirados daquele município, correndo dos deslizamentos da serra do mar, também sobre as demais cidades da baixada, e o porto santista. Graças a Deus, e às tecnologias multidisciplinares da Engenharia e da saúde ambiental da USP, e Academia brasileira, isto não ocorreu. Que um possível novo governo de oposição, as usem em favor da sociedade no Brasil, para evitar novos quadros de refugiados ambientais e sociais previstos na poderosa visão de Jare Diamond.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e presidente da Debatef Soluções e Conhecimento
debatef@debatef.com


A Revolução dos Bichos e o PT

      No último feriado, escolhi como releitura “A revolução dos bichos“ de George Orwel, e o que mais me chamou a atenção, foram os dois pósfácios escritos pelo autor: o primeiro reeditando o prefácio de 1945 endereçado à inteligência britânica e americana, o segundo de 1947, endereçado às pessoas comuns da URSS. Em 1945, a Rússia era aliada dos ingleses e americanos contra o nazifacismo, e por isso o constrangimento foi geral quando identificaram na fazenda dos bichos, o regime centralizador da Rússia, e em seus dirigentes, os porcos que comandavam. Orwel em sua bela sátira, analisa a teoria de Marx do ponto de vista dos animais, em contraponto à dominação humana, fazendo clara alusão à experiência soviética como um todo. Daí o choque de frente com a “real politik” ocidental, com sua elite preferindo “acreditar” nos relatos fantasiosos que a imprensa vermelha estatal fazia dos processos de Moscou. Esses países não quiseram “sujar as mãos” e recontar a história mudada pela propaganda comunista, e por isso o autor, inconformado, a transformou em uma estória de bichos, que se rebelaram contra seu dono e o expulsaram da fazenda, assumindo eles mesmos a gestão da produção.
      Escreveram sete mandamentos, e à medida que o bonapartismo da liderança dos porcos fica claro, a lei vai sendo mudada para favorecer os ocupantes do poder. Uma comunicação atroz, faz as ovelhas se convencerem, que alguns bichos são mais iguais que outros, por isso “merecem” algumas regalias. Depois, mais e mais poder centralizador, concentração de renda, a tal ponto que os bichos de quatro patas até já estariam andando de pé, como os homens do “ancién regime”. E suas atrocidades e expurgos até extrapolam o que se fazia antes, e que se tornara motivo da tal revolução.
Refletindo sobre o assunto a fim de interpreta-lo para o Brasil de hoje, relembro da revolução que nós, como os bichos dessa estória, pensávamos que faríamos quando colocássemos o PT no poder. A primeira mudança dos “mandamentos” veio na “Carta aos Brasileiros”, quando descobrimos que a política econômica seria a mesma do governo anterior. Depois de decepção em decepção, até ao mensalão e à ameaça do impeachment do porco mor foi um pulo. Aí veio a propaganda e procurou apagar e esconder do povão os podres do atual regime, e anão ser para os bem informados e que podem comprar jornais, revistas e conteúdo na internet, conseguiu-se a maioria eleitoral com a gestora do governo anterior, que embora desconhecida, surfou na onda do seu criador-um fenômeno de comunicação de massas. Pois bem, já se foram os cem dias do governo Dilma e o pior não aconteceu. Acho até que ela foi muito bem ao trazer de volta a austeridade ao cargo presidencial, e trabalhar direitinho todos os dias, dando o exemplo que faltava aos trabalhadores deste país. A popularidade está em alta por isso, primeira mulher no governo, cuidadosa, austera, sem estrelas que pudessem mandar mais que ela. Mas os resultados estão pífios. Seus projetos não decolaram. O PAC aí está com seus absurdos. Como o trem bala sem pé nem cabeça e A exemplo do que aconteceu com a elite americana e européia na década de 40, a nossa intelligentsia, nossa mídia, nossas sensatas lideranças, parece que já foram cooptadas pelo carisma maligno deste Napoleão de São Bernardo, e não estão querendo “sujar as mãos”. Por outro lado o País anseia por respostas para questões candentes como segurança pública, saúde e educação, muito mais que sentar no G20 da ONU, pois para pensar em liderar o mundo, precisamos primeiro cuidar de nós mesmos, pois ao contrário da fábula, não existem homens que são mais iguais que outros.

José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor

debatef@debatef.com.br