quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

O Paradoxo do Conhecimento


“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos, erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.”  Leonardo da Vinci

Após autorizar pelo INEP/MEC, o funcionamento de mais um curso superior no País( O de tecnologia em Produção e Design de Jóias,na capital de São Paulo), leio na volta, entre aviões e aeroportos, o livro "Gestão do Conhecimento" de Hirata Takeuchi e Ikujiro Nonaka- ed. Bookman, Porto Alegre , 2004, que conta como os executivos japoneses mais promissores e de empresas de sucesso, sempre eram transferidos para Havard,  Wharton ou Berkeley, nos EUA. Até que estadistas e pensadores de administração do Japão, fundaram a Hitotsubashi ICS, uma escola de administração de classe mundial, que exige para entrada em seus MBA's, uma experiência anterior de trabalho como qualificação para o ingresso. E, esta ação fez dela a principal escola do mundo em gestão do conhecimento.

Para entendermos o porque, voltemos à sociedade industrial de Taylor, com seus procedimentos científicos, para organizar e realizar o trabalho: nela o paradoxo era algo a ser eliminado. Para tanto, buscavam a simplificação das tarefas, e daí chegou-se à eficiência de produção, ícone do processo industrial. Na era da informação, décadas depois, houve tentativa semelhante de erradicar a ambiguidade, e desta vez, influenciada pelo desenvolvimento do computador, e das ciências cognitivas.

Nela, o melhor resultado só se tornou possível porque, os problemas complicados foram simplificados, e, as estruturas organizacionais se fizeram especializadas.

A complexidade do mundo real, nestes casos, foi decomposta em partes pequenas e simples, para que as pessoas as processassem. Os autores mostram então,  como a passagem para a sociedade do conhecimento, elevou o paradoxo, de algo a ser eliminado e evitado,para algo a ser aceito e cultivado, e avisam que,  quanto mais turbulentos os tempos, mais dicotomias  e paradoxos, que não são alheios ao conhecimento, pelo contrário, o conhecimento, por definição, é formado por dois componentes dicotômicos, e aparentemente opostos: o conhecimento explícito, e o tácito. Assim como a vida é formada por opostos: masculino e feminino, vida e morte, bom e mal.

O conhecimento explícito, é expresso em palavras, números ou sons ,e pode ser compartilhado na forma de dados, e especificações, via de consequência, consegue ser rapidamente ser transmitido aos indivíduos, formal e sistematicamente. Já o  conhecimento tácito, é altamente pessoal e difícil de   formalizar, sendo, portanto de comunicação e compartilhamento difícil. Nesta rubrica estão as intuições, palpites, subjetivos, que estão profundamente enraizados nas ações e experiências corporais dos indivíduos, assim como nos seus ideais, valores e emoções. São afinal, habilidades informais de difícil detecção, que caracterizam o "know How" de mestres e artesãos- um tesouro de especialidades-desenvolvidos nas pontas dos dedos, ou em " insights" e modelos mentais, que dão forma ao modo como  percebem o mundo.

Finalizando, o conhecimento não é explícito ou tácito. Ele é tanto explícito, quanto tácito, sendo inerentemente paradoxal, pois é formado do que se aparenta ser dois opostos. Logo temos de conviver com o paradoxo. Aceita-lo e enfrenta-lo. Tal como fazemos no Yin e Yang oriental, ou, do modo como utilizamos o fogo e a água, no processo industrial.

                 José Carlos Nunes Barreto
Pós -Doutor e Sócio diretor da DEBATEF Consultoria

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