" Mas aquele que beber da água que eu lhe der, nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele, uma fonte de água que salte para a vida eterna" João 4:14
Há dez anos, durante o segundo governo lula, quando não sabíamos dos escândalos da Odebrecht, e dos desvios bilionários da cleptocracia instalada, acompanhei e participei do debate sobre a transposição das águas do rio São Francisco, quando escrevi vários artigos, contra a obra, nos jornais O correio de Uberlândia e O Estado de Minas. Também li alguns com opinião a favor , como a do ex deputado constituinte Luiz Alberto Rodrigues, contemporâneo da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Uberlândia(UFU).
Lendo opiniões como essas, de um lado e de outro- parecidas em tudo com a dualidade atual entre esquerda e direita, concordo com Ed Murrow, na contracapa do livro " O Bispo", de Douglas Tavolaro, sobre o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus(IURD), Edir Macedo: "Todo mundo é prisioneiro de sua própria experiência...Ninguém elimina preconceitos- apenas os reconhece."
Mais um assunto polêmico, que colocou em lados opostos a intelligentsia brasileira: de um lado o citado ex deputado aliado à IURD e ao governo lulopetista, do outro, contra, estava o bispo diocesano católicode Barra(BA), apoiado por ribeirinhos, a esquerda e artistas, durante a greve de fome do religioso, frente aos tratores visíveis e invisíveis, da ação daquele governo.
Me posicionei ao lado do bispo católico, e não por fé ou emoção, mas por razões estritamente técnicas: Os números são do documento"Estudo de ImpactoAmbiental/ Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente", disponível na internet: "Os canais do eixo norte por onde correriam71% dos volumes transpostos, passariam longe dos sertões menos chuvosos, e das áreas de mais elevado risco hídrico. E 87% dessas águas, seriam para atividades econômicas altamente consumidoras de água, como a fruticultura irrigada, a criação de camarão e a siderurgia, voltadas para exportação,e com seríssimos impactos ambientais e sociais". O religioso era bem informado, e sabia que só 4% dessa água atingiria as pessoas despossuídas, e com sede no nordeste.
O Governo em questão, desviava recursos do erário e, não conseguiu entregar a obra, após gastar bilhões de dólares, e mostrar a falta de competência técnica de sua empreiteira principal, a Odebrecht ,além de criminosamente mentir, ao fazer acordo espúrio e eleitoreiro, com as elites nordestinas , prejudicando Minas Gerais, que ficou com os maiores impactos ambientais. Para isso, usou a rede de outro bispo, que hiper rico, fica em Miami, e hoje é um poderoso líder político, ao apoiar o novo governo em 2018, o que significa ficar mais de 20 anos ininterruptos no poder, com suas benesses e conveniências...Quanto ao livro , não terminei de ler por absoluta discordância com o conteúdo...por retratar alguém, que retirou até a lã de suas ovelhas, para trocar por ouro para suas suntuosas banheiras.
Dom Cappio, que li agora, está se aposentando, na época, antes do fim de seu jejum, fez publicar uma eloquente carta aberta, que em parte mostro a seguir:
"Acusam-me de ser inimigo da democracia, por estar, em jejum e oração, combatendo um projeto do governo federal autoritário, falacioso e retrógrado, que é o da transposição de águas do Rio São Francisco. Meu gesto, não é imposição voluntarista de um indivíduo. Fosse isso, não teria os apoios numerosos diversificados e crescentes, que tenho tido de representantes de amplos setores da sociedade[...]Vivêssemos numa democracia republicana, real e substantiva, não teria que fazer o que estou fazendo .Um dos mais graves males da democracia, no Brasil, é achar que o mandato dado pelas urnas, confere um poder ilimitado, aval para um total descompromisso com o discurso de campanha, e senha para o vale- tudo. A sociedade está enojada e precisa se levantar."
A conclusão é sua!
José Carlos Nunes Barreto
Pós doutor e sócio diretor da DEBATEF Consultoria
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