sábado, 4 de março de 2017

O golpe contra “esta gente”



por Ponto de Vista 
  • Em data recente, um distinto professor publicou no CORREIO de Uberlândia figadais comentários sem fidalguia sobre o BNDES e os projetos ambientais. Raciocínio descosturado das políticas de Estado, centrado apenas em dados pontuais sem indicar os propósitos do investimento, o pós-doutor Nunes Barreto reduziu investimentos em infraestrutura em países em desenvolvimento por transnacionais brasileiras a uma nada arguta conclusão: “fazer bonito”. Feio para ele. É a velha oposição patrocinada pela mente conservadora radical do “aqui falta tudo e eles ainda investem lá!” Mobiliza o ressentimento e a inveja popular semeando ódios, mas nada explica.
    A seguir tal lógica a França, a Alemanha e os EUA não realizariam investimentos além de suas fronteiras, pois mesmo lá subsistem bolsões de pessoas que precisam de (mais) auxílio do Estado. Mas não há problema, pois no mundo de Nunes não há lugar para a solidariedade, nem entre as nações. Para a obtusa capacidade de sentir do conservadorismo radical, quando alguém ao seu lado esteja a desgostar-se com um resfriado pouco importa a pior de todas as misérias distante de seu olhar.
    A posição dos patriotas conservadores radicais requer profunda e urgente reconsideração, pois o seu revestimento de neutralidade já descoseu, e ficou visível que não passa de radical compromisso ideológico. O patriota está a agendar um desencontro com a sua respeitabilidade, eis que a corrupção hoje reluz no seio do Governo não eleito em funções enquanto ele, contemplativo, permanece aquecido em sua poltrona. E aquele furor de indignação patriótica? Guardado no armário com a sua bela panela?
    Imperativo é desarquivá-la e lavar a jato os seus conceitos, que combata os vilões no poder indo às ruas expressando sua honesta indignação, incitando o inquisitor-Mor(o) a investigar, ao menos, “o esquema do Aécio” que, como diz a famosa gravação de Sérgio Machado, “todos sabem qual é”, fato agora agravado com as delações, incluindo a de Leo Pinheiro, da OAS. Existe indignação seletiva contra a corrupção ou tudo foi mera fachada partidário-ideológica?
    Exortar a juventude sim, mas nunca para a raiva como propõe o sr. Nunes, eis que a prioridade não é alimentar os sedentos de ódio, senão pavimentar as vias da participação política. Por isto, sinceramente, desejo que o sr. Nunes faça boa caminhada no dia 31/7/16, mas o convido a refletir melhor, pois o objeto que o mobiliza já foi digerido pela história, pois agora todos sabem: é golpe. Querer apoiá-lo é declarar-se antidemocrata, explicitar contrariedade ao resultado das urnas determinado por aqueles a quem o articulista ignominiosamente trata por “esta gente”.
    O trabalhador saberá reconhecer quem foram os detratores de seus direitos, os prepostos de quem almeja extrair proveito financeiro da trituração dos direitos dos trabalhadores, cujo projeto é transformar o país na velha e ultrajante senzala. Esquece o sr. Nunes que “esta gente” cumpriu as regras eleitorais ao votar na Presidente.
    Mas se a honestidade é a marca dos patriotas, então, em face da decisão do Ministério Público Federal de arquivar a acusação contra a Presidente por pedaladas fiscais no caso do Banco Safra – fundamento do pedido de impedimento da Presidente –, já revisarão sua posição ou, então, que tenham o valor de erguer a seguinte bandeira em suas manifestações do dia 31: “Eu defendo o golpe!”. Sejam golpistas, mas com a coragem de defendê-lo em público, alto e bom som.
    Roberto Bueno
    Pós-doutor CEAD/UFU
     

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