domingo, 22 de janeiro de 2017

O capital


O capital

por Ponto de Vista –Jornal Correio de Uberlândia


Ano passado 62 bilionários  detinham o mesmo capital que 50% da humanidade, este ano, janeiro de 2017, o número de bilionários com este poder baixou para 8 pessoas. A concentração de renda, no âmbito mundial e principalmente aqui- onde é ainda maior-  virou tema no encontro do Forum econômico Mundial em Davos, e é uma ameaça à democracia no mundo. Pikety , estudou durante 15 anos o assunto, e foi um profeta , como mostramos  abaixo, ao falar sobre seu livro “O Capital”.



  • As pessoas costumam afirmar que os economistas são arrogantes. Falam uma língua diferente, o economês, e têm linhas de pensamento conflitantes que, quando contrariadas pelos fatos, não são revistas pelos autores e seguidores. O tema de nossa reflexão, hoje, é baseado em uma leitura que fiz nas férias e que julgo indispensável neste começo de século: “O Capital no século XXI” de Tomas Piketty – que não é arrogante nem tem um discurso de economês, pelo contrário, é elegante, possui um suave trato com as palavras e apresenta competentes pesquisas sobre desigualdade de riqueza e renda que inovam e impactarão o cenário da economia política no século 21, tanto quanto Marx no século 20, daí, o sucesso editorial jamais visto em um livro de economia.
    A principal força desestabilizadora da distribuição de renda é o fato de a taxa de rendimento do capital privado ser muito mais elevada do que o crescimento dos salários e da produção e, se nada for feito, algo acontecerá de muito grave e revolucionário, envolvendo o despertar das massas prejudicadas. O trabalho é conclusivo ao comparar as desigualdades de renda e capital no tempo e no espaço, ao redor do mundo, utilizando o Coeficiente de Gini (indicador sintético de desigualdade que varia de 0 a 1 – quanto mais próximo de 1 pior). Em 2010, este índice era 0,36 na Europa, 0,49 nos Estados Unidos, e 0,19 nos países escandinavos – O PNUD órgão da ONU avaliou o Brasil em 0,56 – o 3º mais desigual. E o que mais me impressionou, nas pesquisas de Piketty, é que pouca coisa mudou desde a belle époque – as pequenas mudanças que ocorreram foram exógenas (com ação de fora das sociedades estudadas – como, guerras) – via de consequência, a desigualdade não mudou por ações de governantes nem em países democráticos como Inglaterra e EUA. Como seria diferente por aqui?
    Aprecio tabelas e gráficos com análises quantitativas e qualitativas para expressar resultados, o que o livro apresenta fartamente. No capítulo sete, por exemplo, em três tabelas, o autor mostra, qualitativamente, que, em 2010, em termos de propriedade do capital, em todos os países o Índice Médio de Gini foi 0,70, enquanto para renda do trabalho foi 0,30 (menos da metade). Percebam que o Indicador Gini de capital, somado à renda, mascara o poder dos rentistas, enquanto sabe-se que esta desigualdade é por demais potencializada com ações de patrimonialismo, corrupção e desvios de orçamentos públicos. Uma das sugestões de Piketty (polêmica) é taxar os mais ricos com, por exemplo, impostos sobre grandes fortunas, de tal forma, que o estado lidere e reproduza uma distribuição mais equânime: os 10% mais ricos ficariam com 30% do capital nacional, os 50% mais pobres com 25% e os do meio com 45%(contra os atuais 10% mais ricos com mais de 50% de renda e capital e os 50% mais pobres com menos de 20%)
    Nas notas de conclusão, o autor dá uma estocada em textos consagrados de Sartre, Althusser e Baldiou – seguidores de Marx, que, segundo ele, não apresentam, como o mestre, soluções sobre a questão do capital e das desigualdades entre classes sociais por terem sido comunistas engajados e usarem esses dados para lutas de outras naturezas. Tudo isso faz muito sentido ao olharmos para este seco, desigual e esquecido país no lado de baixo do equador.
    Jose Carlos Nunes Barreto
    Professor doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia
    debatef@debatef.com
     

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