quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Tragédia Brasileira

“Segurança é uma questão de Estado e deve estar acima das diferenças políticas. Precisamos de um pacto por uma reforma institucional profunda. Ou haverá segurança para todos, ou ninguém estará seguro” Luiz  Eduardo Soares  Ex - Secretário Nacional de Segurança Pública.

Após o voto do decano do STF a favor dos embargos infringentes estabeleceu-se de vez  a sensação de impunidade na sociedade brasileira - uma das tragédias que fazem parte do conjunto da obra de insatisfação  da Nação. A ausência de educação e saúde com “qualidade fifa”,  aliadas aos crimes sem solução ,à polícia corrupta e despreparada e a política de encarceramento em massa das classes menos favorecidas, que não podem usar a justiça da elite e dos grandes advogados ,completam a lista mas não a esgotam, tamanha a miséria espiritual desta agenda.

Vou falar em seguida alguns números instigantes citados pelo sociólogo e estudioso em tela, criador do conceito das UPPs, e autor do livro “Segurança tem Saída” pela editora Sextante, que recomendo aos dirigentes e gestores da segurança pública deste País. Começo com o número de jovens assassinados na maioria homens e afrodescendentes-são quarenta mil por ano na faixa de idade entre 14 e 24 anos-de tal impacto, que já falta na pirâmide etária social este perfil étnico. Se juntarmos a estes, os cinquenta mil mortos em acidentes de trânsito por ano e os cerca de 40000 mortos em acidentes de trabalho, teríamos mais mortos anualmente que os cem mil mortos em dois anos e meio de guerra na Síria. E porque nós e o mundo não percebemos isso? Sem dúvida porque as vítimas são da maioria silenciosa: preta, pobre e pouco representada. Basta ver o alarde que é feito quando cai um boeing com algumas dezenas de mortos, que concentram mais usuários brancos e da elite (o que está mudando, ainda bem, mas  não invalida a comparação).

Das quarenta mil mortes por assassinato, a maioria se dá com a presença do trinômio álcool, armas e tráfico de drogas, potencializada pela presença de uma polícia que é um verdadeiro macaco em loja de louças: desaparelhada, sem formação adequada, sem auxílio adequado de perícias, o que faz com que somente se esclareçam em média 10% dos assassinatos. Via de consequência, a vida vale muito pouco neste País, a pistolagem arrebanha tanta gente, e os crimes contra a vida e o patrimônio cresce em escala geométrica. Pois o professor Soares diagnostica: temos 56 polícias brasileiras-27 PMs estaduais, 27polícias civis estaduais, polícia Federal e polícia rodoviária federal. Não há um sistema nacional que organize estas instituições, que na maioria das vezes competem entre si, e raramente dialogam, mesmo quando as soluções de crimes exigem  isso. Não nos esqueçamos das guardas municipais e das seguranças armadas, que equivalem a quase um exercito paralelo, com a maioria apresentando carência de formação, agravada pela falta de controle adequado por parte do estado, e eis o terrível estado da arte da segurança pública no Pais.

A grande verdade é que este assunto virou questão de vida e morte para todo cidadão brasileiro, que enfrenta esta guerra da falta de segurança diariamente, e é um sobrevivente da ação desordenada de nossas polícias, com eterno fogo amigo contra a população - sábia, a qual diz ter mais medo da polícia que dos bandidos, e o autor em epígrafe, infelizmente, mostra de maneira inequívoca, que ela tem toda razão. Que Deus nos ajude!

Jose Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e Presidente da Academia de letras de Uberlândia(ALU-MG)

debatef@debatef.com

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