Vivemos um momento de extrema penúria em termos de segurança jurídica. O TSE vai e volta em suas interpretações sobre verticalização das coligações partidárias para as próximas eleições. Uma enxurrada de decisões dos tribunais superiores deram liberdade a criminosos, corruptos e prejudicaram as CPIs do Congresso nacional ao ”blindarem” alguns ilustres investigados. Tudo isto em setores, em que a lei é muito clara.
Imagine alguém que precisa procurar a justiça, numa área em que legalmente não há clareza, como na questão do assédio moral. Que é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras, à situações humilhantes e constrangedoras, durante a jornada de trabalho, e no exercício de suas funções. Se no caso, é sobre professores mestres e doutores, a coisa fica mais confusa ainda ,pois se trataria de uma “elite” que estaria muito bem colocada na vida, e por isto, nem precisaria de atenção do estado e da justiça.
Absurdos estão acontecendo, e a sociedade está impassível. Calada e autista. As relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, principalmente em universidades particulares “caça níqueis”, fazem os professores que obtiveram o título de doutor, “esconderem” o mesmo, com medo de serem demitidos. Há um pacto de tolerância e silêncio, que faz a vítima, gradativamente se desestabilizar, fragilizar-se e perder sua auto estima. A organização tem uma degradação de seu clima organizacional, onde passa a imperar atitudes e condutas negativas dos chefes, sobre os subordinados. As vítimas são isoladas do grupo , hostilizadas , ridicularizadas, e desacreditadas diante de seus pares, forçando-o muitas vezes a mudar de emprego, e dependendo da especialidade, de região.
A revista Banas Qualidade de abril de 2006, entrevistou o consultor e especialista em assédio moral no trabalho ,Gustavo Galleazzo. Dele :”O assédio moral é um processo que vai congelando o profissional e o tira do centro de decisão. Quando você o tira do centro de decisão, a capacidade de informação vai se esvaziando. E os prejuízos para empresa são infindáveis. Primeiro há o reflexo na produtividade . Depois é um risco para a empresa porque o assediado começa a ficar tenso, desgostoso com a organização e começa a divulgar informações sigilosas, deixando de ter zelo com a informação, deixando de ter zelo com os processos” Nada mais claro.
Contudo, foi cruel demais o acontecido tempos atrás ao professor doutor Bernardo Bernadino, de um Centro universitário yYY. Negro lutou até ser doutor. Éramos colegas de trabalho, mas sua vida mudou após resolver agir contra este estado de coisas, através de uma legítima ação sindical, nunca aceita pela mantenedora da instituição. Que lhe cortou os vencimentos, após escrever um simples artigo reinvidicatório. As últimas notícias que tive dele não foram nada boas.
Havia tentado o suicídio após seis meses de privações com água e luz cortadas e sendo socorrido por colegas. Sobreviveu com muitas sequelas físicas e emocionais. Eu, como o mais velho do grupo, tive de vir a público responsabilizar a direção da IES pela vida deste professor, que defendeu os interesses da classe tantas vezes vilipendiada e predada. Claro que sofri represálias, mas faria tudo de novo, e isso foi há 20 anos.
Hoje, vejo acontecer de novo este processo, até em universidades públicas federais , em que pesquiso e estudo. Uma verdadeira praga contra a inovação e a criatividade, que os supostos autores destes crimes - e ainda se intitulam gestores, buscam alcançar com suas desastradas atitudes.
José Carlos Nunes Barreto
Pós-Doutor e Sócio fundador da DEBATEF Consultoria