domingo, 14 de fevereiro de 2021

As Trocas Intertemporais

“[...]Vamos todos numa passarela/

De uma aquarela/Que um dia descolorirá./”

Do nosso cancioneiro popular

 

O valor do amanhã. Este é o novo livro de Eduardo Gianneti, que povoa minhas reflexões neste  carnaval de 2021, cancelado pela pandemia.Normalmente leio temas relacionados à gestão ambiental /saúde/ segurança e gestão de pessoas, meus prediletos. Porém, desta vez, investi neste que é um ensaio sobre a natureza dos juros, após uma folheada que me seduziu, porque  faz uma abordagem transversal do assunto, envolvendo além de economia,biologia,sociologia,comportamento-psicologia,crenças-religião, chegando à medicina.

A morte é  explicada pelo autor, do ponto de vista biológico, como o fim da nossa participação como coadjuvantes, em nossos quinze minutos de glória e holofotes, quando somos obrigados a nos retirar definitivamente da ribalta(segundo o autor a religião cobra um alto preço pela crença na continuidade da vida pós morte...),dando lugar aos atores principais: as células germinativas que são o espetáculo da vida. Elas, por não estarem sujeitas ao envelhecimento, não descolorirão como a Aquarela cantada por Toquinho. Serão capazes de se reproduzir indefinitivamente, desde que o ambiente ajude.”O soma(corpo em grego) some do mundo com seu dono. Os germens -guardiães do DNA replicante - pulam fora e seguem viagem: A finitude biológica é o juro que se paga à contribuição milionária do sexo como reembaralhador assíduo do carteado genético”que melhora as espécies.

 Desfrutar o momento, ou cuidar do amanhã ?Usufruir agora, pagar depois, ou pagar agora, e usufuir depois? Pergunta Gianneti. Com algumas lições de anatomia,ele nos ajuda a responder: o cérebro humano é formado por circuitos modulares, que não estão perfeitamente integrados- o sistema límbico, e o cortex pré- frontal. O primeiro representa a gratificação imediata-a cigarra do aqui e agora. O segundo, representa a formiga que pondera os prós e contras, e poupa para o amanhã. Há uma lei-pedra  neste caminho.  Antecipar custa, retardar rende- é o conceito de juros, que são as trocas intertemporais aplicadas à economia. No usufruir agora -pagar depois, o benefício é antecipado no tempo, e os custos chegam depois. Já no pagar agora-usufruir depois, os custos precedem os benefícios, por isso há o desconto. Portanto, juro é o que se paga por antecipar, e o que se ganha por deferir(adiar)um benefício. Um chocolate agora, ou dois daqui a vinte minutos? Este teste foi realizado com crianças de várias idades, e se descobriu que somente a partir dos cinco anos elas conseguem adiar a gratificação, e esperar para ganhar mais. Segurar impulsos exige maturidade .E, esta reflexão nos leva à alguns autores, que têm mostrado o Brasil como um país que tem vocação para o desenvolvimento, mas não para a poupança. Imaturidade? Sim. Somos cigarras límbicas. Antecipamos os benefícios, e constantemente chegamos ao endividamento ,seja no FMI, seja nas Casas Bahia. Não planejamos como as formigas pré-frontais anglo saxônicas ,nipônicas e germânicas ,por isso pagamos um alto preço histórico: a  dependência  econômica e cultural. Somos dominados e subjugados à pax americana, que diferente da  romana, da antigüidade, não nos proporciona qualquer cidadania. Lembro,a propósito do apóstolo Paulo, que como pregador do evangelho, foi um dos primeiros globalizadores. Sua cidadania romana o livrou de muitas situações difíceis e, ao mesmo tempo, foi fundamental para  a conversão de centenas de milhares, ao cristianismo. Paulo era letrado. Um doutor da lei. E um dos pressupostos da cidadania, é uma excelente educação. Que a pobreza extingue, ao nos tornar preocupados demais com a urgência das necessidades básicas,  definidas na pirâmide de Maswlow. Por não haver recursos poupados,nem investimentos em auto-realização, patina-se no tempo, e no IDH-índice de desenvolvimento humano da ONU: Triste boicote  e desvalorização do amanhã .Pobre Brasil das eternas quartas feiras de Cinzas.

 

Prof.José Carlos Nunes Barreto

Pós-doutor e editor Executivo da Revista Sciencomm

Uberlândia MG

 

 

 

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