domingo, 28 de fevereiro de 2021

De Juízes e Sites

 

“Foi um rio que passou em minha vida/

E o meu coração se deixou levar.”

Cancioneiro popular

 

Quem não viu a cicarelli e o Renato Malzoni protagonizando aquelas cenas “calientes” na praia de Cadiz? aconteceu no site YouTube, e o mundo todo pode ver pela internet que é livre  e  democrática ,certo? se você respondeu positivamente, saiba que não é bem assim. Pelo menos na China, no Brasil e em poucos países do mundo, onde não há verdadeira e irrestrita oportunidade de expressão. A prisão recente  de um deputado pelo STF,é um exemplo disso... Por aqui , o “pé na jaca” é  em função da judiciário anacrônico que temos, salvo honrosas exceções. O desembargador Ênio  Zuliani  fez um absurdo: bloqueou o acesso dos brasileiros ao You Tube.Depois, diante do vespeiro que mexeu ,voltou atrás.Todavia este episódio ,que  causou muito debate e repercussão na mídia , jogou luz sobre a justiça que temos.

Estive na Universidade de Jiao Tong em Xangai, na China, para apresentar um trabalho científico  em  2001,e me surpreendi quando precisei usar a internet. Para encurtar a conversa fui levado ao chefe de gabinete do reitor que me deu uma senha restrita.Lá eu sabia que não existe liberdade. Mas e aqui? Explica-se “o caso Cicarelli” pelo  viés  de retrocesso e atraso de  nossos juízes.Alguns se sentem deuses pelo poder que detém.E param de aprender. Se isolam da sociedade.E por isso geram decisões que maltratam o País, e até impedem seu crescimento, porque o mercado internacional teme investir numa nação sujeita estes humores. Por falar nisso,veio a calhar o estudo de dois advogados da  universidade  de São Paulo,Ribeiro & Ferrão,que estudaram amostras de 181 decisões judiciais de São Paulo e outras 84 de 16 estados. Um estudo seríssimo.

As conclusões da tese de Ribeiro mostram o que há muito sentíamos quando procuramos a justiça:Se dois litigantes buscam a proteção da mesma lei,o de melhor posição social tem até 45% mais chances de sair vitorioso.Élio Gaspari desvenda o assunto no Jornal “A folha de SP” de 4 de fevereiro. Um verdadeiro teatro de absurdos. A mesma lei- dois pesos duas medidas. Você tem muito dinheiro no Banco ?Ou  é dono de banco? Se as respostas forem positivas o código de defesa do consumidor vai  valer, caso contrário não.

Em São Paulo aconteceu isso com uma cidadã  contra um banco no caso de um contrato de financiamento de veículo. Já no maranhão segundo o estudo, o mesmo código amparou uma empresa e seu dono que não pagou US$2,3 milhões de dólares a um banco suíço. Acontece que os juízes e o dono da empresa convivem diáriamente  ,tomam uísque 12 anos, Lions ,estas coisas..... Concluo ,não querendo comprar mais uma briga com este artigo, mas  expondo apenas a opinião de cidadão , que paga seus impostos cada vez mais caros, ao ponto de quase não  conseguir fazê-lo mais .E sabendo que esse pessoal do andar de cima, cada vez mais ricos – com a desigualdade social escancarada - com uma canetada, algum networking, não  paga nada –usa-se dinheiro do erário, que é desviado da saúde ,educação etc...dos pobres enfim. Seria bom que os srs prefeitos  e o ministério público( sob pena de crime de responsabilidade) , também cobrassem dos influentes, o IPTU e o ISS, que por esta “lei informal” teimam em não pagar, e ainda ameaçam quem manda a conta: sabe com quem está falando?

                    José Carlos Nunes Barreto

Pós - doutor e Editor Executivo da Revista Sciencomm

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Os Ciclos da Vida

 

“Acredito que existem fases, ciclos, começos e recomeços. E acho que estou bem no meio de um deles”

Clarissa corrêa

 

A vida é um ciclo, os antigos já diziam. Fui refletir sobre isso  e me vieram uma série de questões. Quando alguém pergunta, quantos anos você tem, na verdade quer saber, quantas voltas você deu em torno do sol. O próprio sol, leva seu colar planetário,  em direção à constelação de Hércules. Em um outro ciclo, nosso coração bate  100 batidas por minuto, por exemplo. Temos nossos  relógios internos-biológicos, todos comandados pela alternância claro escuro. Através da retina, ativamos um grupo de neurônios, situados na base do hipotálamo, que disparam ordens para nosso marca passo circadiano(diário).Os ciclos hidrológicos, de rios e bacias ,também interagem, à medida que a terra se aproxima, ou se afasta do sol. No inverno muitas águas, no verão, secas. A ação do homem, através de hábitos modernos com o corpo, e ,com o uso indiscriminado de recursos do planeta, está alterando  estes ciclos de forma caótica. O uso do carbono, contido na queima de carvão e petróleo, está aquecendo o planeta como uma chapa quente. Degelando geleiras, e destruindo complexos sistemas estuarinos marinhos em todo planeta, verdadeiros berçários de biodiversidade . Além disso, as engenharias feitas sem  conhecimentos sensibilidades ambientais, geram  desastres climáticos como o de New Orleans, durante o furacão Katrina .As obras de retificação do rio Mississipe,  fizeram os engenheiros americanos drenarem milhares de Km, quadrados de pântanos e mangues,  que hoje se sabe, seriam fundamentais para quebrar a força das ondas do mar sempre agitado por furacões. Tiveram de fazer um dique, que, como se viu não aguentou. O próximo, terá que resistir furacões de grau 5, e  levará 20 anos  para ficar pronto. Já era.

Trazendo para nosso ethos industrial-urbano, a experiência desta prosa ,pergunto, quantas veredas foram aqui aterradas, para se fazer pátios e ruas totalmente impermeabilizados?  Claro, que as águas escorrem para a bacia dos Rios, pelos córregos tributários, a  maioria canalizados sob  ruas  e avenidas,  insuficientes para comporta-las. Esta ação maluca de impermeabilizar o solo, está mexendo no ciclo hidrológico. Aumentando a evaporação sobre a cidade, fazendo chuvas cada vez  mais fortes. E ao mesmo tempo não permitindo que estas percolem no solo. Eis o desastre. Faça você mesmo as contas: são bilhares de caixas d`agua de 1000 litros( aprox. 1 tonelada),  se movimentando. Só caros piscinões poderão quebrar esta velocidade e energia, até que se desmate mais, e se impermeabilize mais...

 Também é preciso rever comportamentos e atitudes, que não levem em consideração o ciclo circadiano do corpo humano. A sociedade está cada vez mais noturna, e há quem troque o dia pela noite. O pai da cronobiologia - Ueli Schibler, adverte que estudos ainda não validados, demonstram que, pessoas que trabalham em turnos diurnos e noturnos alternados, seriam mais sujeitas a tumores de câncer. Eis aí a questão. O rico de se morrer de câncer hoje, é de 1/25, por enquanto. Só para comparar, o risco do avião legacy bater no boeing da Gol era de 1/200 milhões. Prolifera-se a doença, que os antigos nem falavam o nome. E o cerne do problema, está no nosso modo de vida.

Finalizando, é necessário estudar para compreender, legislar para agir, e respeitar  todos esses ciclos, porque  são a própria vida.

 A outra opção é a morte...

 

   Prof. José Carlos Nunes Barreto

Pós- doutor e editor executivo da Revista Sciencomm

 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

As Trocas Intertemporais

“[...]Vamos todos numa passarela/

De uma aquarela/Que um dia descolorirá./”

Do nosso cancioneiro popular

 

O valor do amanhã. Este é o novo livro de Eduardo Gianneti, que povoa minhas reflexões neste  carnaval de 2021, cancelado pela pandemia.Normalmente leio temas relacionados à gestão ambiental /saúde/ segurança e gestão de pessoas, meus prediletos. Porém, desta vez, investi neste que é um ensaio sobre a natureza dos juros, após uma folheada que me seduziu, porque  faz uma abordagem transversal do assunto, envolvendo além de economia,biologia,sociologia,comportamento-psicologia,crenças-religião, chegando à medicina.

A morte é  explicada pelo autor, do ponto de vista biológico, como o fim da nossa participação como coadjuvantes, em nossos quinze minutos de glória e holofotes, quando somos obrigados a nos retirar definitivamente da ribalta(segundo o autor a religião cobra um alto preço pela crença na continuidade da vida pós morte...),dando lugar aos atores principais: as células germinativas que são o espetáculo da vida. Elas, por não estarem sujeitas ao envelhecimento, não descolorirão como a Aquarela cantada por Toquinho. Serão capazes de se reproduzir indefinitivamente, desde que o ambiente ajude.”O soma(corpo em grego) some do mundo com seu dono. Os germens -guardiães do DNA replicante - pulam fora e seguem viagem: A finitude biológica é o juro que se paga à contribuição milionária do sexo como reembaralhador assíduo do carteado genético”que melhora as espécies.

 Desfrutar o momento, ou cuidar do amanhã ?Usufruir agora, pagar depois, ou pagar agora, e usufuir depois? Pergunta Gianneti. Com algumas lições de anatomia,ele nos ajuda a responder: o cérebro humano é formado por circuitos modulares, que não estão perfeitamente integrados- o sistema límbico, e o cortex pré- frontal. O primeiro representa a gratificação imediata-a cigarra do aqui e agora. O segundo, representa a formiga que pondera os prós e contras, e poupa para o amanhã. Há uma lei-pedra  neste caminho.  Antecipar custa, retardar rende- é o conceito de juros, que são as trocas intertemporais aplicadas à economia. No usufruir agora -pagar depois, o benefício é antecipado no tempo, e os custos chegam depois. Já no pagar agora-usufruir depois, os custos precedem os benefícios, por isso há o desconto. Portanto, juro é o que se paga por antecipar, e o que se ganha por deferir(adiar)um benefício. Um chocolate agora, ou dois daqui a vinte minutos? Este teste foi realizado com crianças de várias idades, e se descobriu que somente a partir dos cinco anos elas conseguem adiar a gratificação, e esperar para ganhar mais. Segurar impulsos exige maturidade .E, esta reflexão nos leva à alguns autores, que têm mostrado o Brasil como um país que tem vocação para o desenvolvimento, mas não para a poupança. Imaturidade? Sim. Somos cigarras límbicas. Antecipamos os benefícios, e constantemente chegamos ao endividamento ,seja no FMI, seja nas Casas Bahia. Não planejamos como as formigas pré-frontais anglo saxônicas ,nipônicas e germânicas ,por isso pagamos um alto preço histórico: a  dependência  econômica e cultural. Somos dominados e subjugados à pax americana, que diferente da  romana, da antigüidade, não nos proporciona qualquer cidadania. Lembro,a propósito do apóstolo Paulo, que como pregador do evangelho, foi um dos primeiros globalizadores. Sua cidadania romana o livrou de muitas situações difíceis e, ao mesmo tempo, foi fundamental para  a conversão de centenas de milhares, ao cristianismo. Paulo era letrado. Um doutor da lei. E um dos pressupostos da cidadania, é uma excelente educação. Que a pobreza extingue, ao nos tornar preocupados demais com a urgência das necessidades básicas,  definidas na pirâmide de Maswlow. Por não haver recursos poupados,nem investimentos em auto-realização, patina-se no tempo, e no IDH-índice de desenvolvimento humano da ONU: Triste boicote  e desvalorização do amanhã .Pobre Brasil das eternas quartas feiras de Cinzas.

 

Prof.José Carlos Nunes Barreto

Pós-doutor e editor Executivo da Revista Sciencomm

Uberlândia MG

 

 

 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Lua de sangue...

Este eclipse acontece quando a Lua é encoberta pela sombra da Terra. Conforme o meteorologista Leandro Puchalski, a coloração avermelhada ocorre por conta da refração e dispersão da luz do Sol na atmosfera terrestre, que desvia apenas alguns comprimentos de onda – É o mesmo fenômeno que acontece durante o nascer e o pôr do Sol”.

 

No começo do século 20, um triste canto de louvor, entoado por negros americanos durante a Páscoa, ainda podia ser ouvido, enquanto sua igreja ardia nas chamas da KukluxKan: “De joelhos  partamos nosso pão/De joelhos partamos nosso pão/Se de joelhos estou/Contemplando o nascer do Sol/Senhor tem pena de mim/De joelhos partamos nosso pão…” Era como se nada estivesse acontecendo, embora muito sangue e  dor crispassem o ar. De onde viria aquela força?

Século zero: Jesus é morto na Cruz e este evento divide a história em AC e DC. Os profetas que o precederam e os que o sucederam, foram mortos das mais cruéis formas possíveis: crucificados, apedrejados, serrados ao meio, queimados em fogueiras, decapitados. Muito sangue jorrou ao longo de milênios na história do cristianismo. E a força dos que morriam em paz, vinha de Jeová Jihé.

Século 21 no Brasil: cerca de 40 mil pessoas são assassinadas todo ano por motivos fúteis, além do latrocínio, e menos de 10% dos autores destes crimes são punidos, na maior nação “cristã” da América latina. Se de cada uma dessas mortes, sairem alguns litros de sangue, seriam centenas de caixas d’agua de mil litros cheias do conhecido líquido vermelho, que poderiam, num suposto protesto, serem despejadas na areia de Copacabana no Rio, poluindo o mar e impedindo o banho. Talvez assim o mundo enxergasse tantas vidas perdidas por nada. Não pregavam o evangelho, não eram revolucionários em valores, simplesmente foram eliminadas como cidadãs, durante seu pacato cotidiano.

Somos o País mais violento do mundo, e os que morrem suplicam por suas vidas, não como os negros supliciados na América do séculos 19 e 20- por uma entidade com cara e  identidade, por isso, foram resilientes até a chagada de Martin Luther King - e após, por uma cultura de violência, horror e impunidade que  não tem cara, nem dono – não é de ninguém , nem do Estado, nem da sociedade, muito menos de Deus.

A estranha coincidência, desta Lua de sangue em plena Páscoa , me intrigou muito -  ela é rara, e para mim, trouxe uma mensagem da não superficialidade incomum nestes tempos; da superação das velhas lutas e dores: é como se Jesus mandasse seus anjos turgirem de vermelho o branco brilhante da Lua, num celeste protesto, para nos alertar sobre a Nação que estamos construindo,  com tanta  lama de sangue sob nossos pés, igual a que Noé –um bom filme- presenciou – olhou na sola do  calçado para se certificar, e a partir daí construiu  o novo, já fora da arca,  sobrevivendo ao dilúvio.

Finalizo sonhando assim, e esperando que este texto possa ajudar leitores e leitoras a  refletirem sobre esse  evento cristão,  chamado Páscoa.

 

 

José Carlos Nunes Barreto

* Pós doutor e Editor Executivo da Revista Sciencomm