Hotel Ruanda 2, por José Carlos Nunes Barreto
sex, 23 de janeiro de 2015 00:03
“A morte de qualquer ser humano me diminui/porque sou parte da humanidade/…/Portanto, não pergunte por quem os sinos dobram/Eles dobram por você”. John Donne
* José Carlos Nunes Barreto
De férias, peço licença a meus leitores para a releitura de um artigo de alguns anos atrás, quando comecei esta parceria com o jornal Gazeta do Triângulo: Genocídio foi a palavra chave. E ele é definido no Aurélio como crime contra a humanidade, o que consiste em destruir total ou parcialmente um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Cometer contra eles, qualquer dos atos seguintes: matar membros seus; causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental; submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente no todo ou em parte (grifo nosso).
O tema desta crônica é o título de um filme, que reproduz uma história que cobre de vergonha a humanidade, e que vem a calhar, devido ao “evento” Charlie Hebdo em Paris. Os europeus de forma geral, colonizaram as Américas, Ásia e África. A África e a América Latina foram alvo do que há de pior em termos de dominação. Foram saqueadas, humilhadas e tiveram seu futuro boicotado por aviltamentos acontecidos neste período. E que permanecem até hoje. Vocês acompanharam as discussões sobre a rodada de Doha?(que foi um fiasco)- Homens de estado do Brasil defenderam nossos interesses contra uma nova dominação: a colonização tecnológica. Primeiro tiraram o ouro, pedras preciosas, madeiras nobres. Agora estão levando genes e princípios ativos. Infelizmente foram mais cruéis com a África. Tiraram tudo. E ao sair queimaram as pontes do futuro, ao lançarem o dissídio entre irmãos, e dividirem países. Este filme expõe a divisão dos Tutsi e Hutus, de forma maquiavélica – através da desigualdade na divisão de poder pelos colonizadores belgas, que na undécima hora, contrataram uma guerra civil anunciada e construída pelo ódio racial que ceifou 2 milhões de almas tutsi (que parecem valer menos que 12 cartunistas franceses em termos de solidariedade mundial).Provocou o deslocamento de outros milhões para países limítrofes. Tudo sob o olhar atônito da ONU, e com o fornecimento de armas aos hutus pelos franceses.
Um dos poucos momentos políticos brilhantes do governo Lula, foi quando lá, em sua visita como chefe de estado, pediu desculpas pelos 400 anos de escravidão de africanos neste País – que só aconteceram por conta da crueldade e corrupção de seus líderes, que, como fazem hoje os políticos no Brasil, literalmente rifaram o povo. Mas seria bom que a presidente Dilma, o Congresso e as demais autoridades estaduais e municipais brasileiras, prestassem atenção ao nosso grifo na definição de genocídio, dando conta das estatísticas de mortes violentas que apontam para uma maioria de vítimas sendo jovens e negros. Aqui as balas da polícia substituem os facões hutus. E parece que não temos um Paul (herói e benfeitor dos tutsi perseguidos). Nem um hotel Ruanda (que acolhia crianças e famílias Tutsi). Tão pouco há educação de qualidade e escolas, que seriam a misericórdia para nossa população afro-brasileira. Cristão, como o papa Gregório, oro a Deus para que nos socorra nesta triste quadra de islamofacismo, alzeimer espiritual e cegueira coletiva (Saramago). Só Ele pode nos socorrer – como fez com Daniel na cova dos leões.
* Professor doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia-ALU
debatef@debatef.com
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