"Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria / Que se possa imaginar, amanhã redobrada força/Pra cima que não cessa, há de vingar" [Guilherme Arantes]
O valor do amanhã. Este é o livro de Eduardo Gianneti, relido por mim agora, e que povoa minhas reflexões. Normalmente leio literatura técnica, notadamente temas relacionados à gestão da qualidade/ambiental/segurança, e consequentemente gestão de pessoas, meus prediletos. Porém investi nesta releitura, que é um ensaio sobre a natureza dos juros, após um estudo que me seduziu, porque faz uma abordagem transversal do assunto, envolvendo além da economia, biologia, comportamento-psicologia, crenças- religião, chegando à medicina.
A morte é explicada pelo autor, do ponto de vista biológico, como o fim da nossa participação como coadjuvantes, em nossos quinze minutos de glória, quando somos obrigados a nos retirar definitivamente da ribalta ( segundo o autor, a religião cobra um alto preço pela crença na continuidade da vida após a morte), dando lugar aos atores principais: as células germinativas, que são as atrizes principais no espetáculo da vida. Elas, por não estarem sujeitas ao envelhecimento, não descolorirão,como na música "Aquarela" cantada por Toquinho. "Serão capazes, de se reproduzir indefinitivamente, desde que o ambiente ajude. O soma ( corpo em grego) desaparece do mundo, com seu dono. Os germens - guardiães do DNA replicante-pulam fora, e seguem viagem: a finitude biológica é o juro que se paga à contribuição milionária do sexo, como reembaralhador assíduo do carteado genético".
O que melhora as espécies, indago...Desfrutar o momento, ou cuidar do amanhã, novamente pergunto...Usufruir agora pagar depois, ou pagar agora e usufruir depois, pergunta Gianneti. Com algumas lições de anatomia, ele nos ajuda a responder: o cérebro humano é formado por circuitos modulares, que não estão perfeitamente integrados- o sistema límbico e o córtex pré - frontal. O primeiro, representa a gratificação imediata: a cigarra do aqui e agora. O segundo representa a formiga, que pondera os prós e contras , e, poupa para o amanhã.
Há uma lei-pedra, neste caminho. Antecipar custa, retardar rende - é o conceito de juros. Que são as trocas intertemporais, aplicadas à economia. No usufruir agora, pagar depois, o benefício é antecipado no tempo, e os custos chegam depois. Já no pagar agora, usufruir depois, os custos precedem os benefícios, por isso há o desconto. Portanto, juro é o que se paga por antecipar, e o que se ganha por diferir(adiar) , um benefício.
Um chocolate agora, ou daqui a 20 minutos, pergunto...Este teste, foi realizado com crianças de várias idades, e se descobriu que , somente a partir dos 5 anos, elas conseguem adiar a gratificação, e , esperar para ganhar mais. Esta reflexão, nos leva a alguns autores, que tem mostrado o Brasil, como um País que tem vocação para o desenvolvimento ,mas não para a pupança. Somos cigarras límbicas...
Antecipamos os benefícios, e, constantemente chegamos ao endividamento, seja no FMI, seja nas Casas Bahia. Não planejamos, como as formigas pré- frontais anglo- saxônicas, nipônicas e germânicas, por isso pagamos um preço histórico:a dependência econômica e cultural. O boicote do amanhã...Todavia , este já é um tema para a próxima crônica, quando aplicaremos esta teoria na reforma da previdência, tudo a ver...Até lá.
José Carlos Nunes Barreto
Pós- Doutor e Sócio diretor da DEBATEF Consultoria
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