"O Rio...É Doce/A Vale...Amarga./Ai, antes fosse/Mais leve a carga/.../
Quantas toneladas exportamos.../De ferro.../Quantas lágrimas disfarçamos.../sem berro."
Carlos Drumond de Andrade
Quando lutei por uma siderurgia sustentável, trabalhando no chão de fábrica da Cia Siderúrgica Paulista - USIMINAS, nas décadas de 80 e 90, aproveitei minha juventude e energia para fazer uma tese de doutorado pela USP, alertando a população de Cubatão, que estava exposta a poluentes cancerígenos, sem o saber. Vivi para ver a Eco92, e o protagonismo da produção sustentável desde então. Porque, tantos anos depois, a Vale - segunda mineradora do Mundo, ainda não tem uma produção sustentável, é a indagação de Brumadinho e do Brasil...
Mais uma vez esta Companhia, nascida do Rio Doce, expõe ao mundo sua irresponsabilidade operacional, com barragens de rejeitos de mineração. Como uma das maiores empresas de mineração do planeta,teve acesso às melhores práticas de gestão de Risco do planeta, todavia , sua operação desastrosa,desnuda erros monumentais, o que é inaceitável, e será case de estudos por décadas, em organizações similares,que queiram fazer a coisa certa, qual seja, o adequado planejamento com análise de riscos contra possíveis catástrofes.
A tragédia humana em Brumadinho é desesperadamente maior que o desastre ambiental, ao contrário do ocorrido com Mariana, que entrou para os livros de história, como o maior desastre ambiental do mundo, acontecido há apenas três anos atrás. Triste Brasil... Amarga Vale.
Infelizmente Minas Gerais está em cima de uma bomba com pavio aceso, pois segundo especialistas, 700 barragens estão montadas em seu território, e percebe-se que o Estado não tem gerido adequadamente este passivo, e não tem contado também com apoio adequado do governo federal, que flerta com o afrouxamento dos protocolos, em rota contrária a países que tem obtido sucesso nesta gestão, como o Canadá.
Muitos destes artefatos, se localizam ao redor de cidades populosas como BH, o que aumenta o risco para milhões de pessoas. No caso em questão, as vítimas , até agora-14 horas do dia 3 de fevereiro de 2019,são praticamente 350 mortos, já que os 226 desaparecidos estão enterrados a 20 m de profundidade. Tudo isso é uma mostra do tamanho do ataque sofrido pelo povo mineiro, e da espada que paira sob nossas cabeças, ameaçadoramente.
Nenhum lucro na Terra compensa tal prejuízo sócio - ambiental , e ,espera-se a imediata responsabilização civil, criminal e ambiental dos dirigentes desta empresa, que tarda em ressarcir as comunidades atingidas em Mariana, e muito além, no rastro de destruição que acompanhou o leito do rio doce- as centenas de cidades, e comunidades ribeirinhas entre Minas Gerais e Espírito Santo.
Até quando... pergunta, exaurida , a sociedade brasileira.
José Carlos Nunes Barreto
Pós Doutor e Sócio Diretor da Debatef Consultoria
Blog do Consultor e Professor de Graduação e Pós Graduação José Carlos Nunes Barreto
sábado, 26 de janeiro de 2019
quarta-feira, 9 de janeiro de 2019
Azul Versus Rosa
Não aguento mais a falta de bom senso alheio, sobre o tema em questão...Tanto de um lado quanto de outro!
Minha alma canta no Rio
Estou como Dorival Caymi quando cantava: “O Mar/ Quando
quebra na praia/É bonito , é bonito...”E, como Tom Jobim em sua poesia, que
homenageava a chegada ao aeroporto da cidade, debruçado sobre a baía da
Guanabara: “Minha alma canta/Vejo o Rio de Janeiro/Estou morrendo de
Saudade...”
Eu, que nasci carioca, contudo, hoje estou mais mineiro que
nunca, mas faço questão de todos os anos, nessa época, colocar o pé na areia,
para zerar o stress com a queima de fogos na praia. É um privilégio poder viver,
entre duas culturas, a praiana, e a das montanhas. Segundo outro mineiro- carioca, o ilustre Carlos Drumond de
Andrade: “Minas não é palavra montanhosa/É palavra abissal/Minas é dentro e
fundo/.../Ninguém sabe Minas/.../Só os mineiros sabem/E não dizem/Nem a si
mesmos/O irrevelável segredo/Chamado Minas...”
Já em Copacabana , vejo muitos velhos com cara de jovens,
caminhando, rindo e abraçando a vida, apesar das vicissitudes de segurança,
pelas quais a cidade passa. Esta felicidade, foi medida em várias cidades do
Universo, e o Rio ganhou disparado. Em
um mundo que, vocês já notaram, não costumamos rir mais, dar bom dia, caracterizando
um ethos urbano - industrial meio manicômio
, meio digital, somos mais tristes que alegres...E o carioca é diferente, gosta
do espaço das ruas e calçadões, não só de shoppings, e dá graça a seus
congraçamentos e encontros.
Por falar no poeta Drumond, olha ele ali, eternizado numa
estátua, exatamente no local onde costumava sentar no calçadão! Homenagem
merecida por sua simplicidade e por sua arte. Como ao descrever amor:” O amor é
grande/E cabe nesta ‘frase’ sobre o mar/O mar é grande/E cabe na cama/E no
colchão de amar”
Ando nas ruas, e, gosto de observar pessoas, e em nenhum
lugar do mundo, a conversa flui com leveza e sem reservas, como no Rio, mesmo
com alguém que nunca se tinha visto mais gordo...O tal do inconsciente coletivo,
lá, minimiza todo mal que possa existir na cidade,
e faz essa gente ter um ótimo astral para trocar uma boa prosa, com qualquer um
que passa...E isto em Toronto, Uberlândia ou New York é uma heresia, que dá
fogueira em praça pública!
Ao sobreviver a tantas crises provocadas por bandidos
políticos, e por bandidos de seus morros, o carioca ri de si, faz um samba, segue em frente, se esquivando das balas perdidas
,dando mostra de resiliência e
felicidade.
Viva o Rio!
José Carlos
Nunes Barreto
Pós- doutor e sócio -diretor da DEBATEF Consultoria
domingo, 6 de janeiro de 2019
Censores Existem
“Cuide-se bem/Perigos há por toda parte/E é tão delicado
viver...”(cancioneiro popular)
Sábias palavras: “Se queres a paz, prepara-te para a
guerra”. Já vivi muitas guerras pessoalmente, mas nenhuma delas comparada à que
ocorreu, quando resolvi estudar os efeitos dos efluentes da siderúrgica de
Cubatão-SP, sobre o meio ambiente e as pessoas na baixada santista. Primeiro
ganhei uma demissão, depois, uma perseguição braba fora da empresa, que atingiu
minha empresa de consultoria, mesmo sendo eu, um simples sócio cotista na
época.
Poderosíssimos
interesses foram contrariados com os rumos da pesquisa, que, diga-se de
passagem, era vista com bons olhos, quando os ventos iam a favor da corporação.
Quando mudaram, meu chefe, o superintendente de engenharia, uma espécie de
coach, me chamou e disse: “ Compreendo o valor do que você está fazendo para a
humanidade, todavia, pense no seu pescoço, e na comida de seus filhos”. A partir
daí, entendi o tamanho da minha descoberta, e o perigo que estava correndo. E
me pus a preparar, para a guerra que viria. Para tanto, criei uma empresa de
consultoria-uma Pjota que me acompanha até hoje- com mais três sócios, e loquei
sua sede na cidade de SP, não na baixada santista, pois minha intenção, era
diluí-la na diversidade de negócios do maior centro financeiro da América
latina. Para driblar a censura, trabalhei terceirizado e quarteirizado. Passei a
ter cuidado com trajetos, pessoas , contatos,
e, fui ao ministério público oficiar as descobertas de contaminação ambiental, após publicar meu
trabalho. E esta foi a declaração de guerra.
Fui convidado pelos
repórteres de TV a explicar os resultados à população, quais sejam, que as altas taxas
toxicidade e atividade mutagênica eram a ante sala do câncer, e estavam
presentes em 80% das amostras. Certas “autoridades” e colegas pau mandados,
fizeram contra ofensiva nos jornais e TVs da região, dizendo: ”Este pesquisador
tem de provar muito bem o que está dizendo, senão será processado por difamar
as indústrias do polo” já o meu velho orientador me defendeu, afirmando” Esta
tese tem fé pública e o selo da USP (Na época a melhor e maior Universidade da AL) ,e esta
universidade está à frente da sociedade em décadas. Obtive vitória com apoios significativos
: ONGs, sindicatos, Maçonaria, que pressionaram o órgão fiscalizador ambiental do
estado- a CETESB, para repetir os ensaios do trabalho em três laboratórios
diferentes, como um antidoping, e o resultado favorável foi parar nas primeiras
páginas dos jornais.
O ministério público fechou a dragagem do estuário e porto
santista ( O maior da AL), por 10 anos até que se resolvesse, com novas tecnologias,
a questão da contaminação do sedimento, e , assim evitar seus efeitos deletérios à vida. Este trabalho é citado, 25 anos depois, em academias brasileiras e ao redor do mundo, e está na
biblioteca do congresso norte americano, na Academia de Ciências Chinesa e em artigos da
revista ”Internacional Environmental” entre outros.
Censores existem e são um perigo... torço para que o leitor amigo nunca tenha algum, como os que
encontrei nesta empreitada, contudo se aparecerem , tenha foco e fé. Tudo vai dar
certo!
José Carlos Nunes Barreto
Pós doutor e sócio- diretor da DEBATEF Consultoria
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