domingo, 5 de setembro de 2021

Os Novos Refugiados 2

Agradeço à gazeta Mercantil de Araguari-MG, pela parceria, e pela atualização deste artigo, publicado inicialmente em 2014 Fazendo mais uma releitura do premiadíssimo livro do professor da Universidade da Califórnia, Jared Diamond “Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, quando peço vênia a meus amigos leitores, para comparar situações que presenciei – e relato hoje como sobrevivente, do “Vale da morte” em Cubatão( a destruição do MA, as doenças na população da cidade, e a morte, causada pela instalação do maior polo industrial da AL, à época ,sem planejamento ambiental, e sem equipamentos de controle de poluição adequados). Estas tribulações são análogas e desesperadoras, e estão acontecendo agora no mundo, vividas por centenas de milhares de retirantes, fugindo das guerras do Afeganistão, da Síria e de Gaza , esta, refém das lideranças do Hamas, antagônico e sempre atacado por Israel, além das infindáveis e sangrentas contendas tribais africanas. Com este pano de fundo, reflito sobre a pergunta do autor: “O que é mais assustador do que o espectro do colapso de uma geração : os restos dos templos abandonados de Anykor Wat, no território de Camboja; as cidades Maias tomadas pelas selvas, ou a vigília sombria das estátuas (Moais) da ilha de Páscoa?” As imagens dessas ruínas, sugerem a pergunta: será que isso também não pode acontecer conosco? Neste livro intrigante, este pesquisador sugere a outra face da moeda, que as civilizações ocidentais teimam em não enxergar, após 100 anos de guerras e 50 milhões de mortos, e centenas de milhões de feridos e refugiados ao redor do planeta. Há ainda outro panorama catastrófico, sugerido, profeticamente, pelo autor: o horror das pestes que se aproximam, na esteira das crises sociais e ambientais, exemplificadas pela atual pandemia de Covid 19,após a gripe aviária, o H1N1 e a contaminação africana pelo vírus Ebola. Aliás, o único país que pode ensinar ao mundo, como fazer gestão pós catástrofe. é o Japão, pós-Fukushima. Daquela feita, e um ano após a tragédia, depois de aplicar 1 trilhão de dólares em projetos de reconstrução, o País estava recuperado do pior, fazendo a mitigação da radiação da usina termonuclear atingida, que persiste até hoje. Todavia nem sempre é assim: vide o pós-tragédia de Petrópolis e Teresópolis no Rio de Janeiro, e o Pós-Katrina em New Orleans. Aqui, roubaram até caminhões de doações da Cruz Vermelha aos desesperados, quanto aos americanos, que possuem a melhor logística, as melhores tecnologias, deram aquele dantesco espetáculo de despreparo e falta de gestão… É ou não é motivo para preocupação? Nosso SUS, apesar de todas as honras por existir, e cuidar da sociedade brasileira nesta pandemia, não aguenta sequer a dengue endêmica, e bancar o nascimento de crianças nas santas casas ao redor do País. Suponhamos uma doença ,como o ebola, que em uma semana evolui para uma mortalidade de 70%dos casos! (ou seja, de cada 100 infectados 70 morrem) , lembrando que a mortalidade na atual pandemia é 3%... Em Cubatão, nas décadas de 70 e 80, eu, engenheiro, aos 33 anos, na chefia da produção de aço da Cosipa-Siderbrás, hoje Usiminas, infelizmente não tinha todas informações, mas os meus dirigentes na Siderbrás, sim. Haviam comprado um obsoleto equipamento francês, sem o lavador de benzol-que é descobriu-se mutagênico e cancerígeno- e, criminosamente esconderam isso da sociedade. Nas favelas ao lado da fábrica – na vila Parisi, anomalias em fetos (anencefalia) eram noticiadas dentro e, principalmente fora do País, mas o ar que respirávamos era o mesmo, e muitas colegas choravam dentro da fábrica, ao ficarem grávidas. E pensar que a recuperação ambiental (embora ainda parcial) daquele polo sídero-petroquímico, e do entorno da serra do mar, por uma equipe multidisciplinar, da qual tive a honra de participar, livrou nosso principal parque industrial de ser, hoje, nossa ilha de Páscoa – e as fábricas de lá, de serem nossos Moais. Nessa hipótese, milhares de desempregados vagariam pela baixada santista, nas décadas “perdidas” de 80 e 90, e se juntariam aos doentes de câncer e refugiados ambientais, que teriam sido retirados daquele município, correndo dos deslizamentos da serra do mar, sobre as demais cidades da baixada, e o porto santista. Graças a Deus, e às tecnologias multidisciplinares da Engenharia e da saúde ambiental da USP. e da Academia brasileira, isto não ocorreu. Que nossas autoridades as usem hoje, em favor da sociedade, no Brasil inteiro, para evitar possíveis quadros de refugiados ambientais e sociais , previstos na poderosa visão de Jare Diamond. José Carlos Nunes Barreto Pós doutor e sócio da DEBATEF Consultoria

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