domingo, 19 de setembro de 2021

A Economia da Água

“Terra planeta água/Terra Planeta água” - do nosso cancioneiro popular Em época de aquecimento global, elevação do nível do mar, tsunamis, ficamos encharcados e ao mesmo tempo horrorizados, com o paradoxo da crescente falta de água doce no planeta. Mas, que tal refletirmos sobre a “economia da agua”? Alguns especialistas nos fazem entender sua importância, ao transformar em litros de água todos bens e serviços que chegam até nós. Assim, para um simples galeto que tenha chegado à nossa mesa,1200litros foram necessários. Naquele quilo de carne consumido durante a semana, mais 2000 mais 2000 litros. Em cada quilo de grãos que compramos, foram gastos em média, mais 1000litros. Se você está em uma grande cidade, precisa de cerca de 150 litros dia para seu uso diário, e por aí vai. Os números acima, nos dão segurança para afirmar que, utilizamos em média 4000 litros de água por dia, para vivermos no conforto estabelecido pela sociedade baseada na “economia da agua”. Quanto custa isso para a sociedade? Esta é a questão, cujas ameaças e oportunidades precisamos entender. Segundo a ONU em 2050 mais de 45% da população mundial não desfrutará de água potável, tal é a marcha inexorável dos usos e contaminações das águas superficiais e subterrâneas do mundo E esta é uma previsão otimista, em função da estarrecedora velocidade das mudanças climáticas globais, que dia a dia nos mostram que esta perspectiva virá muito antes de 2050. Apesar de sermos planeta água, somente 0,02% dela está disponível para beber em lagos e rios e a continuar assim este pouco se tornará quase nada. Basta olharmos nos entornos das nossas cidades. O ciclo hidrológico tornou-se caótico: transformou-se em enchentes com a ação antrópica de impermeabilizações, canalizações de rios, adição de esgotos industriais e urbanos-destruição pura. Será que o que aconteceu no Iraque, com relação ao petróleo, não acontecerá no futuro com o Brasil, já que possuímos 12% das reservas de água doce do mundo? E o que é exportar etanol e grãos, senão toneladas de água, enviadas para fora do País? As bacias hidrográficas, são áreas adjuntas ao rio e seus tributários. E nelas, que são uma inteligente forma de fazer política da água, com centenas de cidades a cobrar por seu multiuso, para aplicar na preservação deste bem, adequando legislações já amadurecidas aqui, e em várias partes do mundo. Um famoso “case” é a bacia do rio Paraíba do Sul, que atende mais de 300 cidades no sudeste do país, sendo o rio, para a maioria delas a única fonte de água. Isto em um país possuidor de um aquífero chamado “Guarani” ,um dos maiores reservatórios de água doce do mundo que se estende por aproximadamente 840 800 Km2 no Brasil, distribuídos por 8 estados, entre eles SP,RJ e MG atendidos pela bacia do rio).As reservas disponíveis de água filtrada e auto- depurada biogeoquimicamente, neste aquífero, são da ordem de 45 trilhões de m3,e a população que poderia ser atendida, sustentavelmente seria em torno de 15 milhões de pessoas, sem necessidade de tratamento da água(ABAS-Associação Brasileira de Aguas Subterrâneas). Uma riqueza desprezada pelo setor público, que nela não investe. Agora que já preocupei você também(espero), deem uma olhada no que o governo federal está fazendo no Rio São Francisco: desrespeitando orientações da ANA-Agência Nacional de Aguas, o Comitê de Bacia, as decisões do plenário da CONAMA, e sociedade civil organizada, além de toda tecnologia de gestão de bacias em uso no mundo, para fazer a qualquer custo, e com empreiteiras sem EIA/RIMA, uma sangria num rio que exige cuidados de preservação, como um organismo vivo .Alguém que está ambientalmente na UTI porque foi violentamente agredido todos estes anos- poluição de toda ordem, extinção da mata ciliar, assoreamentos, excassez de água.Apesar da necessidade do povo nordestino sedento , O governo federal perpetra um crime ambiental. Desrespeita leis, pessoas, e a nação. Em um universo que clama por água doce em plena crise hídrica. Até quando? José Carlos Nunes Barreto Pós-doutor e Sócio da DEBATEF Consultoria

domingo, 5 de setembro de 2021

Os Novos Refugiados 2

Agradeço à gazeta Mercantil de Araguari-MG, pela parceria, e pela atualização deste artigo, publicado inicialmente em 2014 Fazendo mais uma releitura do premiadíssimo livro do professor da Universidade da Califórnia, Jared Diamond “Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, quando peço vênia a meus amigos leitores, para comparar situações que presenciei – e relato hoje como sobrevivente, do “Vale da morte” em Cubatão( a destruição do MA, as doenças na população da cidade, e a morte, causada pela instalação do maior polo industrial da AL, à época ,sem planejamento ambiental, e sem equipamentos de controle de poluição adequados). Estas tribulações são análogas e desesperadoras, e estão acontecendo agora no mundo, vividas por centenas de milhares de retirantes, fugindo das guerras do Afeganistão, da Síria e de Gaza , esta, refém das lideranças do Hamas, antagônico e sempre atacado por Israel, além das infindáveis e sangrentas contendas tribais africanas. Com este pano de fundo, reflito sobre a pergunta do autor: “O que é mais assustador do que o espectro do colapso de uma geração : os restos dos templos abandonados de Anykor Wat, no território de Camboja; as cidades Maias tomadas pelas selvas, ou a vigília sombria das estátuas (Moais) da ilha de Páscoa?” As imagens dessas ruínas, sugerem a pergunta: será que isso também não pode acontecer conosco? Neste livro intrigante, este pesquisador sugere a outra face da moeda, que as civilizações ocidentais teimam em não enxergar, após 100 anos de guerras e 50 milhões de mortos, e centenas de milhões de feridos e refugiados ao redor do planeta. Há ainda outro panorama catastrófico, sugerido, profeticamente, pelo autor: o horror das pestes que se aproximam, na esteira das crises sociais e ambientais, exemplificadas pela atual pandemia de Covid 19,após a gripe aviária, o H1N1 e a contaminação africana pelo vírus Ebola. Aliás, o único país que pode ensinar ao mundo, como fazer gestão pós catástrofe. é o Japão, pós-Fukushima. Daquela feita, e um ano após a tragédia, depois de aplicar 1 trilhão de dólares em projetos de reconstrução, o País estava recuperado do pior, fazendo a mitigação da radiação da usina termonuclear atingida, que persiste até hoje. Todavia nem sempre é assim: vide o pós-tragédia de Petrópolis e Teresópolis no Rio de Janeiro, e o Pós-Katrina em New Orleans. Aqui, roubaram até caminhões de doações da Cruz Vermelha aos desesperados, quanto aos americanos, que possuem a melhor logística, as melhores tecnologias, deram aquele dantesco espetáculo de despreparo e falta de gestão… É ou não é motivo para preocupação? Nosso SUS, apesar de todas as honras por existir, e cuidar da sociedade brasileira nesta pandemia, não aguenta sequer a dengue endêmica, e bancar o nascimento de crianças nas santas casas ao redor do País. Suponhamos uma doença ,como o ebola, que em uma semana evolui para uma mortalidade de 70%dos casos! (ou seja, de cada 100 infectados 70 morrem) , lembrando que a mortalidade na atual pandemia é 3%... Em Cubatão, nas décadas de 70 e 80, eu, engenheiro, aos 33 anos, na chefia da produção de aço da Cosipa-Siderbrás, hoje Usiminas, infelizmente não tinha todas informações, mas os meus dirigentes na Siderbrás, sim. Haviam comprado um obsoleto equipamento francês, sem o lavador de benzol-que é descobriu-se mutagênico e cancerígeno- e, criminosamente esconderam isso da sociedade. Nas favelas ao lado da fábrica – na vila Parisi, anomalias em fetos (anencefalia) eram noticiadas dentro e, principalmente fora do País, mas o ar que respirávamos era o mesmo, e muitas colegas choravam dentro da fábrica, ao ficarem grávidas. E pensar que a recuperação ambiental (embora ainda parcial) daquele polo sídero-petroquímico, e do entorno da serra do mar, por uma equipe multidisciplinar, da qual tive a honra de participar, livrou nosso principal parque industrial de ser, hoje, nossa ilha de Páscoa – e as fábricas de lá, de serem nossos Moais. Nessa hipótese, milhares de desempregados vagariam pela baixada santista, nas décadas “perdidas” de 80 e 90, e se juntariam aos doentes de câncer e refugiados ambientais, que teriam sido retirados daquele município, correndo dos deslizamentos da serra do mar, sobre as demais cidades da baixada, e o porto santista. Graças a Deus, e às tecnologias multidisciplinares da Engenharia e da saúde ambiental da USP. e da Academia brasileira, isto não ocorreu. Que nossas autoridades as usem hoje, em favor da sociedade, no Brasil inteiro, para evitar possíveis quadros de refugiados ambientais e sociais , previstos na poderosa visão de Jare Diamond. José Carlos Nunes Barreto Pós doutor e sócio da DEBATEF Consultoria

sábado, 4 de setembro de 2021

Freakonomics ou Eureca!

Freakonomics ou Eureca! “Desconfie sempre da sabedoria convencional. O senso comum precisa ser confrontado com perguntas, muitas perguntas...” Steven Levitt Num dos meus recentes artigos tomei emprestada , a forma de ver o mundo do premiado professor Steven Levitt, (co-autor de Freakonomics) da Universidade de Chicago, quando em suas análises de extrema simplicidade, desvenda o lado oculto das coisas. Me refiro à questão do aborto: A legalização do mesmo em 1973 trouxe como benefício acidental a queda da criminalidade nos EUA. Este é um fato constatado em dados estatísticos no seu trabalho que ganhou a prestigiosa medalha John Bates Clark,que é uma ante-sala do prêmio Nobel. Neste estudo Levitt demonstra que a legalização do aborto foi responsável por metade da queda da criminalidade nos anos 90.Explica-se: Com esta medida se impediu o nascimento de milhões de crianças pobres e principalmente indesejadas, muitas vezes filhas de mães solteiras. Condições que matematicamente aumentam a probabilidade do ingresso do menor ,em uma vida de crimes. A esquerda acusou-o de propor medidas racistas e eugenistas(ou seja eliminar os negros, índios,e minorias). Os conservadores acusam o professor ,de ser propagandista do aborto. Também a este escriba, por ter afirmado que a igreja, notadamente a romana, tem que assumir suas responsabilidades por impedir o aborto( entre outras tantas medidas contraceptivas importantes e que evitam a gravidez sem precisar chegar a este extremo de matar um feto ) Como cristão não recomendaria o aborto. Mas estou trabalhando sobre dados e fatos científicos, que não podem ficar na penumbra, neste momento de caos e reflexão sobre a segurança pública. As igrejas, como integrantes da sociedade, não podem fugir a este debate em função da sua responsabilidade, ao guiar seu rebanho. Não teremos recursos para construir presídios de segurança máxima para tanta gente, que seria boa, caso nascesse num ambiente de amor, exemplos e compreensão do lar, ou de sucedâneos. Tudo que fizermos atualmente será pouco, porque juntamente com esta política pública, deveria haver outras “casadas” como a acabar ou enfraquecer o mercado de drogas, que subjuga esta gente infeliz... Al capone, um mito por sua força mafiosa, só existiu por causa da lei seca nos EUA. Uma simples aplicação da lei de oferta e procura, como sabemos hoje. Então não adianta me atacarem por causa do aborto. Acho que antes disso o estado, a sociedade ,a igreja que somos todos nós, deveríamos aplicar a prevenção, para principalmente evitar a epidemia de grávidas menores, e com problemas de insegurança alimentar(vide última pesquisa IBGE sobre o assunto) Este é um momento crítico, em que além de, ter fé em Deus, e rezar , fazer o bem é assumir escolhas cruciais para os próximos 20 anos: Votar certo; educação de qualidade em tempo integral com formação tecnológica tipo SENAI; Merenda escolar reforçada; Primeiro emprego para valer (não a vergonha que este governo faz);Políticas de adoção de órfãos com os paradigmas de mercado , e tendo o estado apenas como regulador. Como diria meu avô: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. José Carlos Nunes Barreto Pós doutor e sócio da DEBATEF Consultoria

No Vale de Ossos Secos

“Olha/será que é estrela/Será que é mentira/será que é comédia/será que é divina/a vida de atriz/.../se os pagantes lhe pedirem bis/ .../ se eu pudesse entrar na sua vida” Do nosso cancioneiro popular Li dias desses, de novo, a definição de entusiasmo: na etimologia do grego, é ter Deus dentro de você. E nem sempre isso significa sucesso. Jacó teve entusiasmo, mesmo com o corpo coberto de feridas. Mandela passou vinte anos preso, por acreditar na igualdade entre os homens. Mesmo em masmorras, as frestas de sol irradiavam em sua alma, a liberdade... Tantos heróis nos ensinaram. E é hora de exercitarmos as lições. A censura do poder judiciário- leia-se STF, chegou à vários sites e mídias da direita, além de personalidades, algumas com prerrogativas parlamentares, inflando a crise institucional em voga na praça dos três poderes de Brasília no DF... O endividamento, e a dependência econômica construíram a subserviência de parte da classe média, principalmente de pequenos e médios empresários na pós pandemia. Entrevistas, pesquisas eleitorais e reportagens, compradas pelo “mecanismo” coordenado pelos ícones do Foro de São Paulo, e pelo longo braço do Partido comunista Chinês, assustam os não iniciados... Notas para conspurcar governos e pessoas. Silêncios reveladores. Ordens diretas do ministro Moraes do STF, e do corregedor do STE, calam colunistas na internet e na blogosfera conservadora de direita. E, nomes famosos como pastores, cantores e presidentes de partido. No âmbito estadual e municipal, Brasil afora, colunas são excluídas, por criticarem desvios na área de saúde(Covidão) e a falta de transparência com o dinheiro público. A ditadura do pensamento único está aí. Stalin, Hitler, Mao Tsetung além de Fidel Castro, fizeram escola, infelizmente...Nessa história, muitos se perderam no caminho. Milhares pagaram com a vida, por cometerem o delito de opinião. Antes disso, todavia, acredito, milhões apagaram a chama interior da indignação. Ou se quedaram na indiferença, a que o apóstolo Paulo cunhou como morna,”nem fria nem quente, por isso a vomitarei”. Hoje é nauseante também, ver a inteligenttsia nacional, ora se calar, ora vender suas consciências aos violadores da constituição... Para que serve um intelectual assim? Na classe artística , pessoas antes comprometidas com a ética na política, agora relativizam princípios. E valores. Termos chulos e mal cheirosos são utilizados para definir a atual oposição ao governo , que quer subverter com golpes de esquerda , a vontade popular que elegeu a direita como caminho. Lamentável. Estamos ainda vivos, e cercados por um vale de ossos secos... Como ainda ter entusiasmo? Contudo me socorro de dois paradigmas: Na classe artística ,um manifesto divulgado na internet, anos atrás, da cantora mineira de Juiz de Fora, Ana Carolina, da canção em epígrafe, quando diz que aprendeu, desde pequena com seus pais, a não matar, não roubar. Devolver o lápis que não era seu. Pedir desculpas ao colega, depois de uma falha qualquer. E não se conformar com os escândalos da república- ela se referia ao lulopetismo, na época... Aprendendo com o olhar marejado, a vislumbrar frestas de luz. O outro paradigma, eu leio em Ezequiel 37. O profeta estava como muitos de nós. Sem entusiasmo. Tudo cinza em volta. Só ele vivo, e em meio a um vale de ossos secos. Deus ordenou que ele profetizasse, para aqueles ossos secos. E ele obedeceu. Teve fé. E logo em seguida as escrituras relatam que, os ossos começaram a se levantar, nervos foram criados, carnes, sobre os ossos, e o sopro do espírito fez surgir um exército exuberante, excelente e pronto para batalhas que se impunham. Talvez você não creia no sobrenatural, sequer no intangível, mas aprenda com o verso de canção de Geraldo Vandré: ”Esperar não é saber/Quem sabe faz a hora não espera acontecer”: E vá comigo às ruas no próximo dia 7 de setembro de 2021, defender a liberdade e a constituição de 1988. José Carlos Nunes Barreto Pós doutor e Sócio da DEBATEF Consultoria