A Bíblia ensina sabiamente que não se deve permitir
que o sol se se ponha sobre a nossa ira, pois os apóstolos e profetas, e até o próprio
Cristo ficavam irados, mas não iam dormir assim. Aproveitava-se a energia vital
da raiva para transformar pessoas, situações e até mercados. Quem não se lembra
da parte do texto sagrado em
que Jesus açoita os cambistas, revira mesas com produtos
expostos como em uma feira livre montada dentro do templo? Se eles, que eram
santos, sentiam e usavam esta poderosa emoção básica, porque não nós?
Mônica Simonato em seu livro “Competências
emocionais - O Diferencial competitivo no mercado” ed. Qualitymark - 2006, estuda a
raiva e suas consequências, e nos ajuda a medi-la, classifica-la e gerenciá-la.
Segundo ela, são 4 tipos: a implosiva, que se acende no interior, ataca o
estômago, a cabeça, eleva a pressão e mata; a gerenciada, cuja forma de atuar faz de seu portador uma pessoa sadia e equilibrada, pois aprendeu a saber
quando está perdendo as estribeiras, pois
já tem controle sobre as próprias emoções; a explosiva, que é aquela que faz seu dono ser tomado de uma ira que não
respeita nada, nem pessoas nem ocasiões, “quebra tudo”, vítima de um “sequestro emocional;
Por último ela cita a raiva normativa, cujo dom peculiar de quem a nutre, é dar
broncas e fazer críticas para desafoga-la, e se sentir melhor, causando danos ao seu relacionamento interpessoal. No
filme “Tratamento de choque” o tímido Dave Buznik (Adam Sandler), por causa de
um imprevisto banal, foi condenado à pena alternativa de fazer um curso para
controlar a raiva, dado por Buddy Rydell (Jack Nicholson), um psicoterapeuta
imprevisível, de métodos desconcertantes, que predispõe a uma cura perturbadora.
Para isso se muda para a casa do paciente, e passa a interferir no seu
cotidiano de tal forma que o tímido Dave
se satura e explode diante da imperturbável
postura do doutor Rydell, que afirmava então que fazia parte do tratamento, tirar Dave da “zona de conforto” para se
conhecer melhor. Dave descobriu após suas desventuras, hilariantes para o
expectador, que o fato de nunca exprimir
sua raiva, na verdade, era uma forma de
reprimir sua identidade, e um fator limitante para seu crescimento
pessoal e profissional. O filme traz provocações: por exemplo, como no caso de
Dave, porque não reagimos com ira coletiva ante o desrespeito e falta de espírito
público por parte de governantes?
A propósito estive na comissão de orçamento da
câmara de deputados que aprovava a LDO e percebi o quanto somos o “país Dave”.
Aceitamos bovinamente que retirem do nosso orçamento cerca de 47% para
pagamento de uma dívida pública escravizadora. Permitimos “acordos espúrios de
líderes”, que aprovam emendas de bilhares de reais viciadas por propinas a
empreiteiras e políticos, tais, que especialistas afirmam que levam 7% do PIB
per capita. Procurei nosso representante Gilmar Machado e mostrei os números, apresentei
um artigo sobre o assunto. Ele prometeu estudar com seus assessores, e me
retornar, mas até agora não o fez. A meu ver está faltando nele e também em
nosso povo, a ira santa de Cristo - de chutar o balde dos cambistas que
conspurcam o templo sagrado da nação, pois quem cala consente. Estou esperando
deputado!
José
Carlos Nunes Barreto
Professor
doutor
debatef@debatef.com.br
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