“Amanheceu o pensamento/
que vai mudar o mundo/com seus moinhos de vento” Cazuza
A
copa aconteceu, e a sabedoria do povo está goleando a nossa nova elite
estabelecida, e a antiga também. Primeiro, separou os anarquistas do quanto
pior melhor, daqueles que protestam por causas notáveis e necessárias à
cidadania. Depois torceu como nunca, cantou o hino nacional à capela e
estabeleceu o costumeiro clima cordial que encantou os 600 mil turistas que
entraram de avião, e outros estimados 500 mil que passaram pelas nossas
fronteiras secas de moto, carro trem ou ônibus. Dando um recado claro: não
tentem tirar proveito político deste evento que encarna para nós a pátria de
chuteiras. Roubar vocês já roubaram. Agora nos deixem curtir o jogo em paz. O
País, portanto, está vivendo uma coisa de cada vez. Não esqueceu as estripulias
contábeis de dona Dilma, que está lançando como despesas de saúde e educação,
gastos exorbitantes das arenas exigidas pela FIFA. E só está esperando o
momento certo para cobrar de novo, o uso correto do dinheiro público, em suas
prioritárias agendas.
Gosto
de observar como pessoas humildes e não letradas possuem elevado senso de
justiça social, e como herdamos isso dos índios brasileiros, que usam o bem
estar coletivo como forma de vida. Se alguém enriquecesse na aldeia, com
certeza repartiria com suas ocas o novo pib coletivo. Em algum ponto de nossa
história passamos a importar a ética do “lobo de Wall Street” em nossas
relações de concidadãos- e aí perdemos muito, principalmente parte da tal
felicidade, que é o indicador chave. Neste contexto, o futebol aparece como o
esporte mais popular do mundo, usa a leveza e a arte como matéria prima, e traz
o inconsciente coletivo-aquela aura de euforia pela vitória, ou de tristeza
absoluta na derrota, que transpassa mentes e corações à baila como
protagonista. Faz crianças aprenderem a cantar o hino pátrio, muitas vezes com um
“pátria amada, goiabada salve, salve”. E nos encanta, quando tira um menino franzino
de um campinho de terra batida no agreste nordestino, e o eleva à condição de
estrela mundial por gramados “nunca dantes navegados”.
O
poeta perguntaria: “mas quem tem coragem de ouvir?” idêntica pergunta feita ao
vento por São João Batista: Quem ouviu a nossa pregação? Com certeza não foi à
elite branca que vaiou as autoridades na pífia abertura dos jogos. Eles tem
ouvidos moucos diria meu avô. E visão pior, eu afirmaria. São cegos que
cismaram de guiar a Nação. E a riqueza do momento é identificar o povo de olhos abertos, se desviando das
pirambeiras a que são levados diuturnamente.
Quando
uma empresa planeja seu futuro, é obrigada a fazer seminários com seus
stackholders (parceiros/colaboradores/acionistas) para explicitar a sua visão. Ou
seja, como ela quer se ver daqui a algumas dezenas de anos à frente. A própria
Fifa –com todos seus senões, nos ensina como planejar para o cenário de 2022. E
não aprendemos? Não conseguimos planejar
nossas revoluções na educação, e nas áreas sanitária fiscal e política!? É bom
frisar que nem sempre foi assim: Juscelino Kubisheck construiu Brasília do nada
uma cidade modelo da arquitetura mundial, no cerrado vazio do planalto central em
5 anos e realmente fez 50 anos em 5. E o que ele tinha? rompia em fé e Visão.
Que seu exemplo sirva, portanto, de inspiração àqueles que se apresentam agora
como alternativa real de poder para realizar as mudanças sonhadas e cobradas durante
esta copa do povo.
José Carlos Nunes
Barreto
Professor doutor e
presidente da ALU-Academia de Letras de Uberlândia
debatef@debatef.com
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