Algumas experiências acontecidas, desde que passei a escrever com frequência, e durante o período de 2003 à 2016, no jornal “O Correio” de Uberlândia, são muito interessantes, cativantes...
E por serem por demais significativas, é impossível guardá-las só para mim. Quando escrevi “Hotel Ruanda” recebi um e-mail de alguém ligado à raízes islâmicas-lindo-dizendo que eu seria a voz também do seu povo. Não há dinheiro que paguem uma palavra de carinho de uma leitora. que se viu em algumas linhas escritas, por este escriba ano passado, em “Namorado”. Semanas atrás escrevi sobre ”O absurdo do assédio moral” e citei como exemplo o professor Bernardo Bernardino. Um negro.
Recebi e- mails do movimento negro pedindo os telefones de Bernardo, que eu não tinha. Depois fiquei sabendo ,com alegria que o mesmo se recuperara ,através de um e-mail de agradecimento do próprio Bernardo. Que me emocionou. E por isso divido esta emoção com vocês leitores: “Agradecimento. Prezado amigo Barreto, muito obrigado pelo seu artigo e pela consideração de um velho e bom amigo. A vida foi cruel demais para comigo quando entrei para a lida sindical. A humilhação constante a que fui submetido pela direção do Centro Universitário XX, chegou até a minha alma. Foi quando aconteceu aquele “acidente” comigo. Mas já estou me recuperando. Estou na casa de minha mãe (dá o endereço e o telefone).Mas vou ter de me tratar com psicólogo e psiquiatra por dois anos além de tomar remédios muito fortes. Estou vindo do INSS e não pude ser atendido porque a instituição não deposita o mesmo desde 2001.Tive de voltar em casa e levar todos os meus holerites para provar que o mesmo foi tirado do meu salário. Acho que amanhã vão fazer uma auditoria lá. Reze pela minha recuperação. Um abraço Bernardo.”
Liguei depois e falamos por 10 minutos. O encorajei a continuar vivendo. Mas em casa refleti, e resolvi tomar emprestadas as palavras do poeta Carlos Drumond de Andrade. Peço vênia para citá-lo a seguir:
“Viver não dói.
Definitivo, como tudo que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
Mas das coisas que foram sonhadas
E não se cumpriram
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos
O que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido, ao lado do nosso amor e não
conhecemos, por todos os shows e livros e silêncios,
que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos
por todos beijos cancelados,
pela eternidade.
Sofremos, não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos
Mas porque o futuro está sendo
Confiscado de nós
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,
Mais me convenço de que o
Desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
faz perder também a felicidade.
A dor é inevitável
O sofrimento é
Opcional”.
José Carlos Nunes Barreto
Pós-doutor e diretor da DEBATEF Consultoria