Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele.
Martin Luther KingEscrevo no dia dedicado ao líder negro, que lutou contra a escravidão no Brasil: um herói nacional reverenciado no dia 20 de novembro - Zumbi, líder da resistência do quilombo dos Palmares, contra a escravidão, com feriados em várias cidades no País. Aproveito sempre esse dia para refletir sobre o que ele representa para a negritude, e sua luta contra o racismo, que é outro grilhão, imaterial, que segura o destino de metade da população brasileira, semelhante em tudo , àquelas correntes físicas que manietavam nossos antepassados escravos que chegavam ao porto Valongo no Rio de janeiro. Como não reconhecer a importância da cultura negra na criatividade brasileira, na música, na culinária, na resiliência do povo, indago constrangido porque sou um deles. Interessante perceber que muitos negros de pele mais clara, não se consideravam afrodescendentes, até recentemente, todavia, pesquisas recentes , tem mostrado o aumento daqueles que se auto declaram como herdeiros da mãe África.
Nesta reflexão gostaria de sublinhar na minha jornada, mesmo sem mimimi, pois sou um cara raiz, as vezes que fui discriminado no salário, mesmo tendo resultados meritórios, nas promoções, quando era o principal cotado, nos namoros, quando a garota branca vinha dizer que o pai não permitia que ela namorasse um garoto negro. E mesmo assim meu “mindset “em expansão, não me permitiu desistir de objetivos e metas pessoais. A fé em nosso Senhor Jesus Cristo, me colocou de pé todas as vezes que as lágrimas me deixaram caído. E após cada vitória do menino “moreninho” , e estudioso, que queria tirar o primeiro lugar da classe, e conseguia, tirando a posição quase sempre pertencia a crianças brancas e ricas...Muito cedo percebi que as pessoas, inclusive professores, deixavam transparecer que aquele não era o meu lugar.
Quando me formei em Engenharia mecânica éramos 2 negros, entre 60 alunos , eu e o Branca de neve...O apelido era uma clara alusão à cor da pele de meu parceiro de negritude. E naquela época, 1974, não se falava em bulling, e mesmo assim se era feliz e não se sabia. Tenho 3 irmãs e hoje entendo a luta das mesmas, negras e pobres, para se auto afirmar e crescer. Todas fizeram curso superior e ocupam cargo público relevante, casaram , criaram seus filhos e netos, mas as cicatrizes dessa luta testemunham nelas,a dor que ainda é, nascer negro e no Brasil.
Ainda correrá muita água sob a ponte, até que a metade de universitários brasileiros que agora se autodeclaram negros, seja reconhecida como quem ali deveria estar, no topo e com o sucesso que merece. Ao fazer isso, o Brasil estará mais feliz, e se encontrará sem mágoas e ressentimentos , em seu altivo futuro de glórias.
José carlos Nunes Barreto
Pós doutor e sócio diretor da DEBATEF Consultoria