“Da pura água/criar o vinho/do puro
tempo/extrair o verbo”, Orides Fontela
Ainda respirando a derrota do Brasil
para a Alemanha por 7x1,me pergunto porque a arte, do futebol deste País, morreu naquela tarde na forma e na essência, revivendo na gente
aquele antigo complexo de “vira-latas”?
Apaga, apaga . Como fazemos com uma
versão inicial e indesejada de um artigo. Ou com uma lembrança ruim
qualquer.Mas como tudo na vida tem os dois lados, podemos desde já mostrar o
lado bom: Estamos livres deste gargalo de produção de espetáculos caros que
drenam dinheiro da saúde.educação e segurança... Nos jogos da “Pátria de
chuteiras” na copa, muitos negócios
pararam. As expectativas exacerbadas de vitória fizeram o povão esquecer nossas
mazelas: A fome, o desemprego, a falta de educação e de oportunidades ,o
endividamento das pessoas e do Estado( As PECs para limitar o endividamento do
estado vieram depois dessa copa e da Olimpíada-recursos não são ilimitados).Os
jogadores alemães, antes do jogo afirmavam aos jornais que os brasileiros são
bons em futebol porque ficam na rua jogando bola das 8 h às 18H, e não vão à
escola. O que não deixa de ser verdade. O que eles não disseram é que um em um
milhão de bons jogadores brasileiros
negros e pobres do biótipo de Neymar ,tem a oportunidade de jogar uma copa do
mundo. A maioria fica pelo caminho, reféns dos PCCs da vida, porque o estado
brasileiro não dá escola de qualidade, nem infra estrutura adequada para a
saúde, nem políticas públicas decentes para geração de renda. Um desastre! daí
o espaço para a atuação do estado paralelo do partido da “Correria”(crime no
jargão da favela).
Conversei dias destes com um ex-reitor de uma
universidade Federal. O assunto foi sobre a omissão da academia nesta história.
Como podemos continuar errando como o Parreira? não mudarmos o jogo a tempo de
evitar a derrota! Como não aprendermos com os erros? Uma universidade elitista,
fora de realidade. Longe do chão de fábrica, longe da sociedade. E apesar da reforma temista do
ensino médio, vai continuar sorvendo os maiores recursos da educação. Aceitar
isso passivamente é o mesmo que atuar como aquele timinho da seleção. Se
arrastar em campo. Perder a honestidade intelectual. Mas a vida continua e isto
que é mágico. Como as boas idéias .Como os bons vinhos. Sou um apreciador deste
secular ”nectar dos deuses”e um mero aprendiz, a me encantar com os momentos que ele proporciona à mesa. Gosto de
ler os rótulos com especificações e cepas das uvas. Algumas manjadas: cabernet,
Merlot, Pinot Noir. Outras nem tanto:Malbec,Chenin,chardonnay entre muitas. Aprender
a conhecer, cada uma. Outra arte. Solver um”World class” com gosto. “Bouquet”
na taça: é alimento para a alma-está na santa ceia representando o sangue de
Cristo. É remédio - recomendado na bíblia pelo apóstolo Paulo ao díscípulo
Timóteo, para a cura dos males digestivos e por nossos médicos de hoje contra o
mal colesterol. É um produto cuja
cultura de produção, após milhares de anos, se modernizou, e está no final de
uma cadeia de suprimentos que gera renda e prestígio para investidores.
Precisamos extrair daí, como a poeta, novos sonhos e novo arrebol.
José Carlos Nunes Barreto
Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia(ALU)
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