sábado, 22 de outubro de 2016

De vinhos, educação e futebol


                


“Da pura água/criar o vinho/do puro tempo/extrair o verbo”, Orides Fontela


 

Ainda respirando a derrota do Brasil para a Alemanha por 7x1,me pergunto porque a arte, do  futebol deste País,  morreu naquela tarde na  forma e na essência, revivendo na gente aquele antigo   complexo de “vira-latas”? Apaga, apaga . Como  fazemos com uma versão inicial e indesejada de um artigo. Ou com uma lembrança ruim qualquer.Mas como tudo na vida tem os dois lados, podemos desde já mostrar o lado bom: Estamos livres deste gargalo de produção de espetáculos caros que drenam dinheiro da saúde.educação e segurança... Nos jogos da “Pátria de chuteiras” na copa, muitos  negócios pararam. As expectativas exacerbadas de vitória fizeram o povão esquecer nossas mazelas: A fome, o desemprego, a falta de educação e de oportunidades ,o endividamento das pessoas e do Estado( As PECs para limitar o endividamento do estado vieram depois dessa copa e da Olimpíada-recursos não são ilimitados).Os jogadores alemães, antes do jogo afirmavam aos jornais que os brasileiros são bons em futebol porque ficam na rua jogando bola das 8 h às 18H, e não vão à escola. O que não deixa de ser verdade. O que eles não disseram é que um em um milhão de bons  jogadores brasileiros negros e pobres do biótipo de Neymar ,tem a oportunidade de jogar uma copa do mundo. A maioria fica pelo caminho, reféns dos PCCs da vida, porque o estado brasileiro não dá escola de qualidade, nem infra estrutura adequada para a saúde, nem políticas públicas decentes para geração de renda. Um desastre! daí o espaço para a atuação do estado paralelo do partido da “Correria”(crime no jargão da favela).

Conversei  dias destes com um ex-reitor de uma universidade Federal. O assunto foi sobre a omissão da academia nesta história. Como podemos continuar errando como o Parreira? não mudarmos o jogo a tempo de evitar a derrota! Como não aprendermos com os erros? Uma universidade elitista, fora de realidade. Longe do chão de fábrica, longe  da sociedade. E apesar da reforma temista do ensino médio, vai continuar sorvendo os maiores recursos da educação. Aceitar isso passivamente é o mesmo que atuar como aquele timinho da seleção. Se arrastar em campo. Perder a honestidade intelectual. Mas a vida continua e isto que é mágico. Como as boas idéias .Como os bons vinhos. Sou um apreciador deste secular ”nectar dos deuses”e um mero aprendiz, a me encantar com os  momentos que ele proporciona à mesa. Gosto de ler os rótulos com especificações e cepas das uvas. Algumas manjadas: cabernet, Merlot, Pinot Noir. Outras nem tanto:Malbec,Chenin,chardonnay entre muitas. Aprender a conhecer, cada uma. Outra arte. Solver um”World class” com gosto. “Bouquet” na taça: é alimento para a alma-está na santa ceia representando o sangue de Cristo. É remédio - recomendado na bíblia pelo apóstolo Paulo ao díscípulo Timóteo, para a cura dos males digestivos e por nossos médicos de hoje contra o mal colesterol. É um produto  cuja cultura de produção, após milhares de anos, se modernizou, e está no final de uma cadeia de suprimentos que gera renda e prestígio para investidores. Precisamos extrair daí, como a poeta, novos sonhos e novo arrebol.

José Carlos Nunes Barreto

Professor doutor e Presidente da Academia de Letras de Uberlândia(ALU)

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